domingo, 29 de março de 2015

Novos trabalhos na Marginal de Esposende

Quem passa pela marginal já se apercebeu certamente dos novos trabalhos na Marginal de Esposende.

Sou altamente favorável a esta recuperação, já que não faz sentido termos apenas uma parte da marginal com a ciclovia e, sinceramente, penso que este alargamento da renovação da marginal vai aumentar a área útil da marginal, colocando como trajeto de passeio a zona que vai desde a Avenida dos Banhos até à rotunda da Solidal.
Mas existe um pormenor que não percebo como será ultrapassado.

Com as remodelações em curso, uma boa parte do estacionamento junto à Avenida dos Banhos, assim como junto à zona da marina dos pescadores, vai ser suprimido. 

Se nos dias de Verão de maior tráfego já temos grandes complicações em termos de mobilidade, o que nos vai esperar neste verão? 

Percebo, e agora poderei ser algo preconceituoso, que em diversos gabinetes de arquitetura e planeamento o carro seja um inimigo a abater e que as políticas verdes sejam o fio condutor de todos os projetos, mas como é que pensam que as pessoas afluem à praia de Esposende?
Numa cidade que espera retirar grandes proveitos do turismo terá de haver uma solução para esta situação, já que obrigar as pessoas a deixar o carro a quase 2 km de distância no carro não me parece muito convidativo.

Esta situação até poderia ter algum proveito se a marginal estivesse equipada com bares e comércio e assim obrigaria as pessoas a passar por eles, mas como atualmente a  marginal é apenas um local de passagem, não me parece que se retirem grandes dividendos.

Deixo aqui uma sugestão: colocar as quilometragens na ciclovia para todos os corredores e ciclistas que a utilizam.

quinta-feira, 12 de março de 2015

O PDM, primeira revisitação.

O PDM tem como objetivo orientar e truncar o ordenamento do território do concelho. 
Esse ordenamento, além de organizador do território, serve de orientador para o futuro do concelho e serve também como base para novos projetos e novas linhas orientadoras.

O PDM que foi recentemente aprovado para o concelho de Esposende é tudo menos esclarecedor e muito menos lança bases para o que quer que seja.
Não vou já falar e deslindar todo o PDM de uma vez só, já que isso levaria, para ser feito com o rigor necessário, várias semanas e apreciações no local para um parecer avalizado, por isso vou-me restringir àquilo que eu conheço.
Existem algumas situações que me levantam várias dúvidas e das quais eu não percebo o  alcance delas.
A primeira é  a renomeação da “zona industrial” de Esposende para “zona comercial” e  a manutenção da área reservada para ela. Não existirá aumento da área para serem construídos novos pavilhões naquela área. 
Serei sincero ao dizer que entre assistir a um nascimento da zona comercial e a manutenção das zonas agrícolas que a circundam, prefiro a zona agrícola, mas num concelho que deu como justificação a falta de espaço disponível para justificar os elevados preços a que foram vendidos estes terrenos, tendo em comparação as zonas industriais de Vila do Conde, Viana do Castelo, entre outros, parece-me que era perfeitamente justificável a eliminação de uma das zonas agrícolas adjacentes ao ramal de acesso à A28 para zona industrial, uma verdadeira zona industrial.
A segunda proposta são as zonas na beira de água, entre a marina dos pescadores e a ponte sobre o Rio Cávado, para a Zona da Paisagem protegida do Litoral Esposende. Atendendo à zona em que se situa, não consigo perceber, mas isto pode ser uma falta de conhecimento minha, como se consegue delimitar esta zona numa zona em que existe forte alteração da costa com as correntes do rio.
A terceira proposta que não consigo descortinar facilmente é por que é que os terrenos entre a rotunda da Solidal e a ponte sobre o Rio Cávado que se situam entre a N13 e os terrenos pertencente à Paisagem Protegida do Litoral Esposende estão classificados como zona turística e agrícola quando já foi anunciado que o parque da cidade não seria para avançar.
 Estes foram apenas 3 singelos pontos que me pareceram mais pertinentes nesta fase, mas certamente voltaremos a este mapa.

terça-feira, 10 de março de 2015

A visita do Sr. Presidente!

Sinceramente, numa pequena vontade de escrever sobre a visita do nosso PR ao concelho de Esposende  (perdoem-me o não uso daquelas expressões Sua Excelência e demais cerimónias), a verdade é que pouco ou nada haverá a dizer. Atalhando caminho diria que a visita do PR se resumiu a veio e foi-se!

Reza a lenda que Jorge Sampaio esteve em Esposende enquanto PR, na Quinta da Barca, numa visita "à porta fechada" e talvez por isso Aníbal Silva tenha também pautado o programa das festas pelo registo "ao adro fechado".

Chega a ser triste, deprimente mesmo, que o Presidente da República venha ao concelho fazer aquela visita de fugida! Se tempo teve em campanha para gastar em Esposende... ridículo é que não tenha visitado mais numa visita de Estado. 

A vista do PR teve tanto de notório que chega a ser necessário agradecer àqueles "pobres depenados pelo BES" o facto de terem acompanhado a visita - não fosse o aparato deles e teria sido um passeio mudo de uma visita fantasma.

Sinceramente não me dignei a vestir o "casaquinho mirone" para ir a Mar. Gosto de Mar, do S. Bartolomeu, do banho santo. Parte da minha infância passou também por aquela praia, "afogando iscas e perdendos anzóis" à pesca na companhia do Tio Serafim, (tio da minha mãe). Mas deslocar-me a Mar, para ver uma tenda que não cheira a frango como as tradicionais de 24 de Agosto com tabuletas Cachadinha e assistir ao inglório feito de ver um PR inaugurar um adro cujo maior valor da obra em si talvez não seja o betão que deixou mas sim o cimento e blocos que dali saíram... para isso não tenho "pachôrra"! 

E feito este breve apontamento fico a torcer por algo tão simples que seja: que um Presidente da República visite Esposende.

quarta-feira, 4 de março de 2015

Penafiel 1 - 0 Esposende

Era uma vez uma autarquia, chamada Penafiel, cujo presidente da Câmara chegou ao limite de mandatos. Na eleição seguinte, em 2013, candidatou-se o seu número 2, que venceu. 
Se trocar o nome de "Penafiel" por "Esposende", a história permanece verdadeira. 
No entanto, invoco propositadamente o caso de Penafiel, porque ontem Paulo Portas, vice-primeiro-ministro, esteve naquela cidade a presidir à assinatura de contratos de concessão de apoio ao investimento, celebrados entre a autarquia penafidelense e 9 empresas, que vão investir 10 milhões de euros em Penafiel, criando 150 novos postos de trabalho
Esses contratos inserem-se no Plano Municipal de Atração de Investimento da autarquia, o qual foi apresentado no final do ano passado.
O novo presidente da Câmara de Penafiel, que nos 4 anos anteriores tinha sido aí vereador, não demorou muito tempo para que fosse elaborado um plano de atração de empresas e criação de emprego no seu concelho. 
Não teve, propriamente, que gastar tempo a conhecer os cantos à casa, nem a estudar os dossiers, para que, um ano depois de ter sido eleito, conhecesse forma o referido plano de atração de investimento.
Em semana de visita presidencial, permitam-me a honestidade: preferia que Esposende viesse antes a ser destaque noticioso pela visita do vice-primeiro-ministro a presidir à assinatura de contratos de investimento para o concelho, do que pela visita de Cavaco Silva para inaugurar a requalificação da frente marítima de S. Bartolomeu do Mar (obra importante, sem dúvida, mas que é mais do mesmo que vem sido feito pela Câmara, em termos de obras, ao longo dos últimos anos).
Bem sei que não é fácil a Esposende tornar-se uma silicon valley nortenha, nem tem de ser esse o fim. Mas nesta fase, seria importante que a ambição do concelho em ganhar o futuro fosse para além das intervenções em equipamentos e infra-estruturas. Um Plano de Investimento, como em Penafiel, ou um Plano Estratégico, como em Braga. A semântica pode mudar mas a base é a mesma. 

segunda-feira, 2 de março de 2015

Esposendenses pelo Mundo (6)

José Augusto Capitão, 32 anos, natural das Marinhas, é gestor e reside em São Paulo, Brasil, onde trabalha.

Imagem: José Augusto Capitão, Brasil

Na cidade mais populosa do Brasil e centro financeiro da América Latina, fomos ao encontro deste jovem esposendense para conhecer um pouco da sua história e das suas impressões sobre o Brasil e Portugal, nunca esquecendo, claro está, a terra que o viu nascer e crescer.

José, há quanto tempo vives no Brasil?

Cheguei a São Paulo dia 1 de Fevereiro de 2012 para aquela que seria uma experiência pontual de 3 meses, auxiliando a empresa onde ainda hoje trabalho no seu projecto de expansão no mercado brasileiro. Algumas semanas mais tarde, surgiu a possibilidade de ficar por um período mais alargado.

Como é que foi o impacto de teres passado a residir numa cidade cuja população é maior do que o total de pessoas que habitam Portugal?

Saí de Esposende com 18 anos rumo à Invicta - o meu percurso académico desenrolou-se no Porto. Depois disto, tive ainda a experiência de viver 3 anos em Lisboa por motivos profissionais. Se o ritmo destas cidades é maior que o que temos em Esposende, posso dizer que São Paulo espanta. 
São quase doze milhões de pessoas concentradas numa floresta de cimento, fileiras intermináveis de prédios, um horizonte de betão. Contudo, ao final de algumas semanas, acabas por estabelecer as tuas rotinas, os teus sítios, reencontras a normalidade.  
A dimensão da cidade e a sua diversidade oferecem-nos a possibilidade de encontrar novos cantinhos a cada semana, o que é muito interessante.

Ao cabo dos primeiros meses a viver em São Paulo, qual foi o acontecimento que te surpreendeu pela positiva e de que não estavas à espera e, inversamente, qual foi a boa expectativa que levavas para lá e que, afinal, veio a revelar-se uma desilusão?

São Paulo está bastante distante do paradigma brasileiro que incorporamos em Portugal - não é uma cidade de praia, não há o famoso “calçadão”, nem as paisagens que caracterizam os conhecidos bilhetes postais.
A maior surpresa talvez tenha sido a pluralidade de oferta que podemos encontrar na cidade. Fruto de diferentes fluxos migratórios, São Paulo apresenta uma diversidade rara na oferta cultural e gastronómica que, não tenho dúvidas, compete com as cidades mais cosmopolitas. 
A malha humana é diversa: emigrantes e descendentes portugueses, alemães, italianos, japoneses, libaneses (diz-se que há mais libaneses em São Paulo do que no Líbano!) e também brasileiros, de diferentes estados, que migram para Sampa em busca de novas oportunidades profissionais. Muitas tonalidades que enriquecem muito a cidade.
Como desilusões, aponto duas: trânsito e poluição. Ainda que seja uma mensagem comum sobre a cidade, só vivendo cá conseguimos constatar a dimensão destes fenómenos. 
O trânsito é constante praticamente 24 horas por dia, nos 7 dias da semana.  A poluição está bem evidente no estado lastimável dos rios, no lixo que, não raras vezes, vemos acumulados nas ruas e na qualidade do ar, que em dias mais quentes se torna sufocante.
Naturalmente que o choque com a realidade e com a magnitude das favelas também tem de ser registado: é desoladora a sua dimensão, é desoladora a quantidade de pessoas que vivem em condições precárias.

É conhecido o jargão de brasileiros e portugueses serem um povo irmão. Existe uma forte comunidade portuguesa em São Paulo. Como é que é ser-se português no Brasil?

Para além da grande comunidade portuguesa em São Paulo, que reúne agora elementos de duas grandes vagas de emigração, é também muito frequente encontrarmos descendentes de portugueses: brasileiros cujos pais, avós ou bisavós vieram da “terrinha” (como costumam apelidar Portugal) à procura de melhores oportunidades no Brasil.
Para nós a adaptação é bastante fácil: falamos a mesma língua, há traços culturais e históricos que são comuns e inegáveis, conhecemos os craques da bola, ouvimos a música e até as telenovelas da Globo dão uma pequena ajuda! É fácil sentirmo-nos em casa no Brasil!
Os brasileiros são um povo acolhedor, alegre, com o qual é fácil conviver e interagir. O tempo também nos ajuda a perceber que existem muitas diferenças, à primeira-vista imperceptíveis, e com as quais aprendemos a conviver.
De uma forma geral sinto-me muito bem recebido pelos brasileiros e completamente adaptado ao país e à cultura. Acredito que este sentimento se estende à maior parte dos portugueses que cá vivem.

Conta-nos um pouco da tua actividade profissional aí em São Paulo, na GRENKE Leasing.

Actualmente a minha posição é de Managing Director na GRENKE Brasil. Desde o primeiro dia que o nosso projeto no Brasil se tem pautado por grandes desafios. 
Na Europa, e em particular em Portugal, criamos nos últimos anos a ilusão de que o Brasil é a terra de todas as oportunidades, não só para as empresas, como também para os jovens europeus, e, sendo verdade que as oportunidade aqui são grandes, não é menos verdade que as dificuldades em alcançar o sucesso são também evidentes.
O país tem graves problemas estruturais - níveis de corrupção absurdos em todas as áreas da sociedade, um sistema educativo precário com pouca qualidade (que dificulta a contratação de recursos qualificados), grande atraso nas infra-estruturas e transportes públicos.
A GRENKE, enquanto empresa de origem alemã, trouxe para o Brasil os mesmos pressupostos de simplicidade nos processos que aplicamos na Europa, e isso expôs-nos a dificuldades que não são comuns nos outros países em que trabalhamos. 
Vivenciamos um grande processo de aprendizagem e de adaptação, processo esse fundamental para que hoje possamos encarar o futuro com grande optimismo. Estamos agora mais próximos da realidade do país em que trabalhamos.
A Europa, apesar da diversidade dos países que a compõem, acaba por ser muito homogénea. O Brasil, pelas suas condições naturais, sociais, económicas e por estar num patamar de desenvolvimento inferior tem-nos proporcionado desafios muito estimulantes, que têm exigido o melhor de toda a equipa. Assim, posso afirmar que a experiência profissional e as possibilidades de aprendizagem têm excedido largamente as minhas expectativas.
Como a operação comercial da empresa chega já hoje a vários estados brasileiros, a minha actividade profissional permite-me ter contacto com diferentes realidades, o que se torna esta experiência ainda mais enriquecedora.

As expectativas nos próximos anos passam por continuar no Brasil ou o regresso a “casa” está no horizonte?

Voltar a casa é um objectivo que eu e a minha esposa esperamos concretizar até ao final deste ano. 
Reconhecemos estes últimos anos como uma fantástica experiência principalmente pela  possibilidade de viajar e conhecer diferente contextos no Brasil e na América Latina, conhecer culturas diferentes, experienciar situações às quais, normalmente, não estamos expostos em Portugal. 
Porém, o propósito da nossa estadia no Brasil sempre foi temporário. Estabelecemos como meta permanecer em São Paulo por 4 anos, o período temporal que, no nosso entender, reunia da melhor forma os proveitos pessoais e profissionais: permitiria contribuir de forma efectiva para o arranque e consolidação da empresa no Brasil e também nos daria a oportunidade de viajar e de conhecer um pouco melhor a América Latina.
É também um objectivo nosso, um dia, criarmos os nossos filhos no nosso país, perto dos nossos pais e dos nossos amigos.
Regressaremos, certamente, muitas vezes ao Brasil, mas Portugal é a nossa casa.

No final do ano passado ocorreram as eleições presidenciais no Brasil. Acompanhaste de perto a campanha? Houve algum candidato cujo slogan te tenha feito rir?

Obriguei-me a acompanhar a campanha eleitoral, pois os três principais candidatos - Dilma Roussef, Aécio Neves e Marina Silva - tinham propostas muito diferentes para o país, que influenciavam fortemente o quotidiano de quem cá vive. 
Entendo quando perguntas pelo “slogan que faz rir” e, na verdade, não posso esconder que por várias vezes soltei gargalhadas. No entanto, este humor ignorante ou inocente é sintomático da falta de preparação demonstrada por candidatos à presidência da república de uma das economias de quem mais se espera no mundo, nos próximos anos.

Um dos aspectos mais comentados na campanha prendeu-se com o desaceleramento da economia brasileira. Como agente económico, é assunto para ocupar a agenda mas não preocupar, ou já se está, realmente, na fase de alerta laranja?

Desde que o poder está entregue ao PT, primeiro com os dois mandatos do presidente Lula da Silva e agora com a presidente Dilma Roussef a iniciar o segundo mandato, falta um norte à política económica do país. 
Os mandatos do presidente Fernando Henrique Cardoso trouxeram inicialmente estabilidade e, posteriormente, um interessante dinamismo à economia que forma depois complementados pelas políticas sociais do presidente Lula da Silva. Hoje sente-se uma falha na definição de uma estratégia sustentada de desenvolvimento para o país.
Nos últimos anos o crescimento do país assentou quase exclusivamente no consumo com transferências de rendimentos, através de programas sociias como o “Bolsa Família” e o “Minha Casa, Minha Vida” a levarem poder de compra aos mais desfavorecidos. 
Um país que tem uma das taxas de juro mais elevadas do mundo, que vive constantemente com o fantasma da inflação e que tem grandes desafios estruturais precisa de encontrar modelos de desenvolvimento que lhe permita atingir o potencial que o mundo lhe reconhece. 
A situação actual é de grande desconfiança nos actuais governantes (muito ligados a grandes escândalos de corrupção) e nas suas políticas. Muitas empresas diminuíram a exposição ao mercado Brasileiro e a procuram oportunidades noutros países. 
Esta encruzilhada em que o país se encontra justifica o pessimismo com que os analistas vaticinam os próximos anos da economia brasileira.

Como é que definirias o típico «paulistano», desde o colega de trabalho, passando pela pessoa que te atende num café ou serviço público?

Os paulistas, tal como os brasileiros em geral, são pessoas bem dispostas, alegres ,que valorizam o convívio e o chopp no final de um dia de trabalho. 
Como São Paulo é um centro económico, não só do Brasil, como de toda a América do Sul, nota-se um ritmo de vida mais intenso comparativamente à generalidade de outras cidades brasileiras. 
O padrão de vida aqui é mais próximo dos padrões europeus e existe uma maior pressão para o sucesso e para o crescimento profissional, o que acaba por ser menos comum noutras regiões do Brasil.

Como é que se ocupam os tempos livres em São Paulo?
(Museu de Arte de São Paulo - foto José Augusto Capitão)

Apesar de as praias mais próximas distarem não mais que 80 km da capital paulistana é muito difícil viajar para um fim-de-semana na praia. 
Não é raro ouvirmos relatos ou experienciarmos viagens de ida de 4 horas à sexta-feira e outras tantas horas para o regresso ao domingo. Tenho presente um colega português que, certo dia, na véspera de um fim-de-semana prolongado, demorou mais de 8 horas a percorrer estes 80 km. Isto justifica-se pelo intenso fluxo de pessoas que procuram sair da cidade sempre que surge uma oportunidade.
Curiosamente é nestas alturas que a cidade se apresenta mais agradável. Há uma grande oferta cultural com museus, concertos, festivais e teatro. A nível gastronómico a cidade tem uma riqueza ímpar e é possível experimentar comida de qualquer parte do mundo, praticamente 24 horas por dia. Não podemos esquecer os tradicionais botecos onde se partilha cerveja em rodas de samba ou de forró.
Há também uma grande promoção do desporto e actividade física com diversas ruas e avenidas parcialmente fechadas aos fins-de-semana e feriados para que as pessoas possam aproveitar para correr ou andar de bicicleta. 
O Parque Ibirapuera, um emblema da cidade, oferece uma excelente alternativa à praia. Diariamente encontramos famílias a conviver, a praticar desporto ou só a aproveitar o sol, que é uma constante na cidade.

Fizeste parte da Banda de Antas. Como é que vai a música no meio dos afazeres profissionais?

A música sempre teve uma grande influência não só em mim mas em toda a minha família por herança do meu avô materno mas, nesta fase, sou apenas um ávido consumidor!

Já tens algum «time» no Brasil? Já foste ao Morumbi ou ao Arena Corinthians?

Sou um adepto ferrenho do Futebol Clube do Porto, com quase tantas saudades do Estádio do Dragão, como de casa. Não me sobra muito espaço para paixões passageiras por clubes brasileiros. 
Acabo por “torcer” pelos clubes dos amigos que temos cá em São Paulo principalmente pelo Corinthians e pelo São Paulo. Já estive no Pacaembu (estádio municipal de São Paulo) a ver um Corinthians - Flamengo e, ao ter a oportunidade de acompanhar ao vivo a participação de Portugal na Copa do Mundo, visitei também a Arena Amazónia (Manaus), a Arena Fonte Nova (Salvador) e o Estádio Nacional Mané Garrincha (Brasília).


José, na experiência de quem reside no Brasil há alguns anos e em São Paulo, consegues encontrar uma explicação para Portugal ter tido uma prestação miserável no último Mundial?


Acho que mais do que discutir questões técnicas ou tácticas, que foram muito esmiuçadas por “especialistas” durante e após o campeonato, importa-me destacar a grande oportunidade perdida para interagir com a comunidade portuguesa que aqui se encontra e também com o povo brasileiro que, na sua maioria, demonstrou um grande carinho pela nossa selecção e que, em alguns casos, até a adoptou como “segunda equipa”. 
(No Portugal/Gana do Mundial 2014 - foto José Augusto Capitão)

Países como a Holanda e a Alemanha criaram uma dinâmica fantástica com as cidades e com as comunidades por onde passavam, enquanto que Portugal permaneceu isolado em hotéis e centros de estágio
Considerando a grande afinidade entre os dois países acaba por ficar alguma mágoa, mais pela oportunidade desperdiçada de nos envolvermos no espírito do campeonato do que pela pobreza do resultado desportivo obtido.

Quais são as principais diferenças que notas entre Portugal e o Brasil?

As diferenças entre os dois países ficam bem expressas nos estilos musicais que cada país adoptou: se Portugal é Fado, o Brasil é Samba. 
As pessoas cá são mais alegres, mais extrovertidas apesar de, na minha opinião, as relações inter-pessoais serem menos estruturadas e menos honestas. 
Em termos de qualidade de vida e, apesar da incrível beleza e diversidade natural que encontramos no Brasil, não tenho dúvidas que Portugal está muitos degraus acima. O nível de conforto e de qualidade que um português de classe média tem acesso, é ainda uma miragem no Brasil.

Que visão têm os brasileiros sobre Portugal e os portugueses?

Do meu ponto de vista não podemos falar em uma, mas sim duas visões: há uma grande percentagem de brasileiros que ainda associa Portugal à “terrinha”, às senhoras com bigode, um país pequeno e pobre, perdido em tristezas.
Depois há um grupo crescente de pessoas que conhece melhor o país e que se encanta com a simpatia das gentes, com a riqueza das tradições e com a nossa história. Acho que esta também é uma consequência da grande evolução que Portugal sofreu nos últimos nos últimos 30 anos - mesmo para a nossa geração, o país de que os nossos avós ou país nos falam está muito distante daquele que nós conhecemos. 
É, portanto, natural que os estrangeiros que conheceram Portugal há 3 ou 4 décadas ou que conheceram os emigrantes desse tempo tenham uma visão completamente desfasada do que o nosso país oferece hoje. 
Sempre que posso promovo o nosso país junto dos nossos amigos brasileiros e é com satisfação que vejo que, aqueles que tiveram oportunidade de o visitar, falam de Portugal com muita admiração e muito carinho. 
Mesmo a crise de que tanto nos queixamos é para os brasileiros quase um motivo de troça: amigos brasileiros que voltam de visitas a Portugal repetem exaustivamente que importavam, com muito agrado, a crise de Portugal para o Brasil.

Como é que se olha para Esposende a partir de São Paulo? 

O Miguel Esteves Cardoso escreveu, creio que no Público, há uns anos atrás um texto a que chamou “Desculpa lá dizer-te isto, Portugal, mas amar-te é coisa simples” com o qual me identifico muito e que creio que responde a esta pergunta de uma forma que as minhas palavras não conseguiriam. 
Sou orgulhosamente de Rio de Moinhos, Marinhas, Esposende, apesar de nos últimos anos (e muito provavelmente também em muitos dos próximos) me ter tornado mais um visitante e menos um morador. 
Estando fora do nosso país, longe dos nossos sítios e das nossas pessoas acabamos por aprender a valorizar mais o que realmente importa e, não tenho dúvidas, que do Brasil levamos também uma nova forma de gostar da nossa casa.

À sua escala, que prática (s)/medida (s) de bom que encontras em São Paulo, com base nos lugares onde viveste e que achas que poderia muito bem vir a ser aplicada em Esposende, à sua dimensão?

Sem dúvida que as happy-hours! É prática habitual entre os paulistanos juntarem-se ao final de do dia para beberem umas cervejas e conviverem com os colegas de trabalho ou com os amigos. 
Um hábito de convívio social muito mais intenso do que o existente Portugal e transversal a todas as idades. 
Naturalmente que essa prática é potenciada pelo bom tempo que se faz sentir praticamente durante todo o ano, mas sabemos que também é um hábito frequente noutros países europeus.

Sendo o Brasil um autêntico continente, que destinos fantásticos é que já tiveste oportunidade de aí conhecer?

Já visitamos o Rio de Janeiro várias vezes e é uma cidade que adoramos! 
(No mítico carnaval do Rio de Janeiro - foto José Augusto Capitão)

(Passagem de ano do Rio de Janeiro - foto José Augusto Capitão)

Destacaria também Florianópolis, Porto Alegre, Belo Horizonte, Brasília, Manaus (a experiência de visitar a Amazónia é fantástica e inesquecível), São Salvador da Bahia… Planeámos ainda algumas viagens para este último ano no Brasil!
Há um destino que nos apaixonou e que fazemos questão de apresentar a quem nos visita: Paraty, uma pequena cidade que fica a meio caminho entre São Paulo e o Rio de Janeiro e que foi um dos principais portos exportadores de ouro do Brasil para Portugal. 
Ainda hoje, as ruas e as casas do centro histórico conservam a pedra original da sua construção trazida de Portugal. Trata-se de uma cidade pequena, isolada, com uma excelente oferta de restaurantes e pousadas e uma beleza natural incrível: são mais de 50 ilhas, dezenas de praias só acessíveis por trilhas ou barco, cachoeiras de uma beleza ímpar. É possível mergulhar com peixes, com golfinhos e com tartarugas. Fica perto de Ilha Grande e Angra dos Reis que são também destinos fantásticos, sendo esta uma área geográfica que reúne muito do melhor que o Brasil tem para oferecer.

Ao voltar a Esposende qual é aquele lugar a que apetece sempre voltar?

Gosto muito da marginal de Esposende, das recordações de infância que a praia de Rio de Moinhos me traz, mas subir ao monte da Senhora da Paz e ouvir um pouco desse silêncio e dessa tranquilidade é, sem dúvida, um dos momentos mais felizes de qualquer visita a Esposende!

Gostava de finalizar parabenizando-te por esta iniciativa de dar voz aos Esposendenses que se encontram espalhados pelo Mundo e deixar votos de que o meu testemunho permita, a quem o ler, conhecer um pouco melhor São Paulo e também o Brasil.

Esposendenses pelo Mundo” é uma rubrica que pretende dar a conhecer os “esposendenses” espalhados pelos 4 cantos do mundo, partilhando as suas impressões sobre os novos lugares que habitam, os povos e culturas com quem convivem, e o seu olhar sobre a terra que os viu nascer e crescer.
Se conheces algum “esposendense” espalhado pelo mundo, ou se és tu próprio um “esposendense” espalhado pelo mundo, e gostasses de ver a sua/tua história aqui partilhada, escreve para largodospeixinhos@gmail.com, com indicação do nome, país e contacto de e-mail ou FB.