segunda-feira, 27 de abril de 2015

O meu 25 de Abril

Eu não vivi o 25 de Abril, pertenço à geração que conhece o processo revolucionário pelas imagens de arquivo das televisões e por aquilo que ouviu falar. Mas isso não me impede que tenha uma opinião sobre o processo, as suas consequências, os seus aspectos bons e aspectos maus. 

Eu sou daqueles que sabe que Abril foi uma revolução e não uma evolução, como aqueles que quiseram fazer uma nova narrativa sobre este processo. A mesma narrativa que nos querem impingir quando nos dizem que antigamente é que era bom, que antigamente é que tudo corria bem, que antigamente todos éramos pobres mas felizes.

Antigamente não havia sapatos para todos, não havia remédios para todos, não havia comida para todos, antigamente não havia vida digna para todos. Se muitos consideram que a liberdade de expressão e política foi a maior vitória de Abril, a maior vitória, na minha opinião, será a do direito à vida.
10 anos antes de eu nascer ainda havia mães que levavam os seus filhos ao Vera Cruz para os ir ver partir para a sua morte, para o seu esturpo, como se soubessem que o rapaz que até ali tinham conhecido ficaria em África, ainda havia mães, esposas  e familiares que iam receber o seu filho, marido e amigo dentro de um saco plástico vindo de África.
Nada, mas absolutamente nada, do que a minha geração passou se compara ao que a geração da guerra colonial passou e daqui presto os meus respeitos a quem ficou na Guiné, Angola ou Moçambique.
Sei que me dirão que a guerra foi injusta e que as causas não eram as mais nobres e foram ao abrigo de um estado detestável, mas quem lá ficou e quem cá ficou merece o nosso respeito. A guerra colonial, como outros assuntos da sociedade portuguesa, foi esquecida e encoberta, sendo hoje um tema que apenas a espaços é falada, discutida e revista.
Celebrar Abril é recordar a todos aqueles que acham que todos temos de ser conformados e passivos que não existe uma verdade única, não existem dogmas, não existem linhas orientadoras de carácter, não temos apenas uma saída para a nossa vida.

Celebrar Abril é recordar a todos aqueles, principalmente aos jovens, que ter uma vida confortável dá trabalho e que nem sempre é trabalho laboral mas um trabalho cívico, de participação ativa na sociedade, nos partidos, nas suas instituições. Serem revolucionários de redes sociais não chega.

Comemorar Abril ainda hoje é revolucionário.

sábado, 25 de abril de 2015

25 de Abril...

É um imperativo de consciência: o 25 de Abril jamais deverá ser esquecido. 
Se hoje podemos escrever aquilo que escrevemos neste espaço é devido a todos aqueles que lutaram pela liberdade, mas não só pela liberdade... Por todos os que lutaram por uma sociedade mais justa...

Não sou "filho" de Abril, sou "filho" da liberdade, fui formatado para essa liberdade. Nunca tive de sentir o gosto, amargo e azedo, da ditadura, nunca tive de ser subversivo para expressar as minhas ideias, nunca tive de viver sobre o jugo das ideias dos outros. 

A todos os que fizeram o 25 de Abril de 1974, o meu Obrigado!!!
Mas não só aqueles que fizeram o 25 de Abril de 74, mas a todos os que diariamente fazem "a revolução" para uma sociedade justa e livre, que contribuem para os verdadeiros ideais de Abril. 

Vivemos tempos conturbados, vivemos tempos em que a liberdade não é uma liberdade plena, onde nos tentam, novamente, impor ideias, impor ideais, onde a nossa liberdade é ameaçada pelos poderes económicos, por alguns poderes políticos (sejam de que quadrante forem)!!! 
O 25 de Abril faz 41 anos, mas em certas "cabecinhas" ainda não teve tempo de amadurecer, de se enraizar, de fazer escola. 
A democracia livre ainda não chegou a todos. Muitos ainda não entenderam o sentido de liberdade, por outro lado muitos levaram a liberdade longe demais.

Citando Nelson Mandela:
"Ser pela liberdade não é apenas tirar as correntes de alguém, mas viver de forma que se respeite e melhore a liberdade dos outros".

O 25 de Abril de 1974 tirou as correntes aos Portugueses, aproveitemos para dia a dia melhorar a nossa liberdade.
Continuemos a fazer a "revolução", não só com a saudade do que passou, não só com os cravos vermelhos na lapela ou empunhados num braço esticado ao céu, mas uma revolução do pensamento, uma revolução nos valores. 
Assim viveremos plenamente os ideais de "Abril", um "Abril" tão nosso, um "Abril" para todos!!!



 

terça-feira, 21 de abril de 2015

Conferências e cravos

Uma pessoa percebe que um evento foi mal aproveitado quando só se apercebe do evento depois de ele ter ocorrido e esse foi o caso da passagem de Augusto Santos Silva por Esposende.

Augusto Santos Silva esteve em Esposende a convite do PS Esposende para encerrar as comemorações dos 40 anos do 25 de Abril e foi uma passagem quase incógnita.

Sei que Augusto Santos Silva não faz parte dos notáveis do PS  e é uma figura de 2ª linha na política nacional. Foi o homem que disse que gostava de “malhar na direita”, mas sendo um dos poucos comentadores que conta com um espaço próprio de opinião (para mim não existem análises imparciais em política) no horário nobre da TVI24, faz-me confusão que a sua passagem não fosse mais aproveitada.
Surpreende que o PS local não tenha feito maior publicidade a este evento e aproveitado para demonstrar uma maior vitalidade da sua base de apoio, voltando a cair no seu erro genético, o desperdiçar da máquina socialista. 

Esta tinha sido uma boa altura para ganhar algum tempo de antena e preparar o terreno para as legislativas e abrindo algumas perspetivas no quadro autárquico.  O PS Esposende continua numa toada algo conformista, tendo boas ideias mas parecendo que têm algum medo em demonstrar uma irreverência, um inconformismo com a situação atual, uma vontade de mudança. 

Não é sendo o bom aluno que a mudança política se vai dar em Esposende e o PS Esposende gosta de ser o bom aluno e penso que o PS Esposende demonstra um dos piores defeitos de uma boa parte do PS nacional, dar à direita o poder de definir quem é  “responsável” e “credível” na esquerda portuguesa.
Sei que me vão dizer que o objetivo era discutir o 25 de Abril e fazer a comparação entre onde estávamos e onde hoje nos encontramos, mas esse seria um enfoque demasiado ingénuo.
Surpreende ainda mais o facto dos meios-de-comunicação do concelho não aproveitarem, à excepção da Esposende Serviços que transmitiu a conferência,  a sua presença para umas entrevistas rápidas, para destoar das habituais entrevistas às figuras do poder local.
O peso político necessário para se ser entrevistado pelos meios de comunicação esposendenses deve ser altamente elevado…

sexta-feira, 10 de abril de 2015

Uma calma descoberta

O Luxemburgo é talvez o mais obscuro e mais desconhecido país da União Europeia e isso aguçou-me o apetite de o conhecer.

É obscuro pelo seu sistema financeiro, sempre muito citado aquando de escândalos de branqueamento de capitais e de deslocação de sedes financeiras, e é obscuro porque quase todos que aqui vêm é apenas por motivos laborais, e é essa a imagem que fica, um país sempre em modo profissional.

O Luxemburgo não prima por uma ostentação da qualidade de vida, não prima por grandes carros a cruzar as suas ruas, nem por restaurantes faustosos ou por eventos mediáticos, mas percebe-se facilmente por que é que é aqui que está o maior poder de compra de toda a UE.

Quando cruzamos as suas pequenas ruas, vemos todas as grandes marcas presentes, não descortinamos casas abandonadas e raros são os pedintes. A presença de transportes públicos faz-se sentir quer com as inúmeras linhas de autocarro, quer com as inúmeras linhas de comboios suburbanos que servem as pequenas localidades do grão-ducado. Aqui vive-se bem.
Mas, acima de tudo, o que fica na cabeça é a calma que a cidade apresenta. Tudo parece ser feito para ser calmo e atempado, previsível e com qualidade. Em muitas coisas faz-me lembrar Esposende. 

Tudo encerra às 23:00 e no domingo os cafés começam a fechar às 17:00, ficando apenas os bares dos hotéis e  o McDonald’s abertos. 

Mas, como em todos os locais com deslocados profissionais, havia uma interessante quantidade de bares e de restaurantes que animavam para o jantar, com diversos grupos de convivas a aproveitarem as promoções e as bebidas a preços razoáveis. Relembro que o Luxemburgo figura no topo em termos de consumo de álcool a nível mundial e agora fiquei a perceber porquê.
O seu turismo parece direccionado para uma clientela calma, mais envelhecida e que procura a qualidade da oferta em detrimento das grandes multidões. Tal como na Suíça, a indústria de turismo luxemburguesa prima por atrair quem vem gastar dinheiro em detrimento do número de visitantes e quer atrair quem quer conservar o que vê, em vez de se adaptar ao gosto de quem os visita. E isso faz muita diferença. 

Se por um lado a zona europeia se destaca claramente, com os edifícios do tribunal de contas europeu, Filarmónica europeia e a Universidade do Luxemburgo a chamarem a atenção, dando uma ambiência cosmopolita à cidade, por outro lado, a menos de 100 metros de distância, temos um bosque junto ao riacho e rodeado de casas datadas dos anos 20 que dão um ar rural àquela zona da cidade, como se estivéssemos em alguma aldeia do Gerês no meio da serra.

Em contra-ciclo com a esmagadora maioria dos meus colegas de filiação política, este tipo de país não me causa tremores e ódios, já que em vez de se construírem arranha-céus, pistas de gelo artificiais e patrocinar eventos desportivos como os novos pináculos da civilização ocidental que florescem na península arábica, apostou-se em subsídios de renda, acesso generalizado ao serviço nacional de saúde e fundos de reforma  para quem contribui. 

No Luxemburgo não existem histórias de salários milionários, de polícia a conduzir Ferraris nem de festas milionárias mas também não existem histórias de bebés prematuros deixados a morrer à porta do hospital porque o seguro dos pais não cobre o tratamento de prematuros, e isso é o que separa uma sociedade dum amontoado de pessoas.
Apesar de relativamente pequeno, o Luxemburgo é do tamanho do concelho de Viana do Castelo, apresenta alguns produtos muito típicos e muito arrigados no seu dia-a-dia como o leite, a carne, a cerveja e o vinho. Para a sua dimensão, a carta de vinhos luxemburgueses é algo impressionante. O país dispõe de uma produção leiteira com elevada qualidade onde o leite biológico é quase norma, as destilarias são endémicas e todos os restaurantes fazem gala na carne de vaca luxemburguesa. Nas suas ruas é possível ouvir uma grande miscelânia de línguas, e toda a gente parece estar em rotação. 

Nas mesas dos restaurantes as conversas são maioritariamente sobre negócios, política, idas e vindas pela Europa e ouve-se falar inglês com sotaque americano, australiano e ainda ouvimos russo amiúde por estas ruas mas também ouvimos muito português. 

Aqui parece que existem 3 grandes classes de emigrantes portugueses, os dos serviços auxiliares, os das financeiras e os políticos. Em todo o lado ouvimos português, muitas vezes já nem era preciso falar em inglês ou francês bastava dizer “Desculpe, mas sabe onde fica?” para termos uma resposta na nossa língua
Estes, segundo os nossos atuais governantes da coligação PSD-CDS e Miguel Relvas, foram os portugueses que saíram da sua zona de conforto e foram procurar novas oportunidades, foram demonstrar a qualidade da mão-de-obra portuguesa além fronteiras, enriquecer o seu conhecimento e aprender novas artes e procedimentos para voltarem com mais capacidades e habilitações para o seu país natal. 

Para mim estes emigrantes são em grande parte os danos colaterais dos pseudo-neo-liberais que tomaram conta dos destinos de Portugal e da sua opinião pública e que revestidos dos seus telemóveis inteligentes, dos seus cursos em gestão e dos seus termos em inglês reciclaram o mote dos anos 30 e 40 da França ocupada onde a emigração era uma exaltação nacional e não uma consequência da submissão à Alemanha em que a França vivia.
Os finlandeses,os noruegueses, os austríacos, os suíços ou os luxemburgueses não precisam de ir para o estrangeiro demonstrar a qualidade da mão-de-obra dos seus países, fazem-no através da excelência dos produtos que fazem nas suas próprias terras.
O Luxemburgo e a sua calma ficaram para trás e fez-se luz sobre mais um obscuro destino.

domingo, 5 de abril de 2015

Semana Santa em Esposende

Como é tradição, este ano e mais uma vez, cumpriram-se os rituais da Semana Santa; a Semana Maior para todos os cristãos.
Esposende tem, inquestionavelmente, uma grande tradição no que toca a estas cerimónias religiosas, cujos pontos altos são as celebrações de Quinta-feira, com a Missa de Lava-pés e a procissão dos Passos com o Sermão do Encontro, e Sexta-feira, com a missa da Paixão e a procissão do Enterro do Senhor.
No entanto, estas cerimónias têm vindo, de forma acentuada, a perder cada vez mais pessoas que nelas participam ou simplesmente a elas assistem.
Se há uns anos atrás, no que toca ao sermão do encontro, não era raro ver o Largo Rodrigues Sampaio apinhado de gente, hoje em dia vemos cada vez menos gente e cada vez mais, as mesmas pessoas...

Ainda vai havendo  um certo "bairrismo" no cumprimento destas tradições, e a esses "bairristas" tiro-lhes o chapéu!!! Há famílias que fazem centenas de quilómetros para "dizer presente" nas tradições da terra que os viu nascer, incutindo aos seus familiares mais novos, a força destas tradições que os nossos antepassados preservaram através de séculos.
É uma manifestação de um  "bairrismo" salutar, à qual tiro o meu chapéu..

Mas, voltando a centrar a questão na falta de  pessoas que assistem a estas cerimónias, Esposende tem tem de criar mecanismos de atracção efectiva de "forasteiros" à nossa Semana Santa. Todos sabemos que a facilidade meios, que caracteriza os nossos dias, leva cada vez mais gente à sede do distrito para assistir ao culto na Sé e nas ruas de Braga, mas cabe-nos a nós, repensar a nossa estratégia e tentar inverter esta tendência.
A Semana Santa em Esposende não pode ser apenas para, como se diz, "cumprir calendário"; a Semana Santa em Esposende encerra em si séculos e séculos de história, e deve ser  mantida e potenciada.
Na minha modesta opinião, deverá existir uma articulação efectiva entre a fábrica da igreja, a Santa Casa da Misericórdia e a Câmara Municipal, nomeadamente do seu  pelouro do Turismo,de modo a capitalizar esta "riqueza" do Concelho. Cabe à Fábrica da Igreja e à Santa Casa a dinamização destes "entendimentos" a nível religioso, repensá-los e actualizá-los sem os desvirtuar, tendo em vista um plano para cativar mais assistência, até mesmo da área do Concelho.

Para isso devem ter em conta que a tradição é que faz com que as coisas perdurem e não é com mais anjinhos, com mais cânticos, com mais bandeiras, com mais, mais, mais que se conseguem as coisas;  o "menos é mais"quando tem qualidade e um regresso às origens (não muito distantes)  das nossas tradições, já estudadas e colocadas em livros, poderá fazer a diferença.

Temos de promover o Concelho, noutros tipos de oferta turística (que não só a gastronomia ou as nossas paisagens). Podemos promover o Concelho, também pela sua cultura religiosa, pela oferta que ela proporciona e do muito que tem ainda para dar.

De salientar, este ano, a recuperação da tradicional "Queima do Judas", momento de agrado geral, que a alguns deixou "parte da saca" no seu "testamento". Aos que nada deixou e que  ficaram certamente expectantes, esses deverão aguardar, pois, para o ano haverá mais. Mais um ponto de interesse a somar a uma Semana Santa tão rica...

A todos os meus votos de uma Santa e Feliz Páscoa.