quarta-feira, 17 de julho de 2019

Cristina Leites

Nunca tive a sorte de conhecer Cristina Leites pessoalmente, mas admiro-a desde que travei conhecimento da sua pessoa e percurso de vida, numa excelente entrevista dada a Mário Fernandes, em 2016.
No 5º ano da Faculdade, na cadeira de Direito do Trabalho, tive um assistente cego. Um tipo brilhante, que nunca se deixou condicionar pela sua limitação. Dizia-nos, numa das muitas conversas fora da matéria que gostava de ter connosco (era mais velho do que nós poucos anos apenas), que, dada a sua condição, enquanto tirou o curso teve sempre de fazer o dobro (estudo, leitura, etc.). E o mais interessante é que dizia isto não em tom de lamento, mas em tom de incentivo, para que cada um, na sua vida e respectivas circunstâncias, dê o seu máximo, para lograr alcançar o objectivo a que tanto se propõe.
Por isso, ao ler Cristina Leites e o esforço que fez para tirar o curso e, depois, singrar profissionalmente, recordei-me muito do meu querido assistente, hoje em dia, doutorado na Faculdade de Direito de Lisboa.
Na entrevista dada a Mário Fernandes, impressionou-me o lamento de Cristina Leites pelo facto de não conseguir sair da cepa torta no Município. Cristina era telefonista, mas dada a sua formação superior, ambicionava poder trabalhar numa área enquadrada com as suas valências académicas (licenciada em Filosofia), no caso, a biblioteca: «por isso, trabalhar numa biblioteca tornaria a minha vida mais completa».
Julgo que este repto, infelizmente, nunca chegou a encontrar eco junto de quem de direito.
A biblioteca de Esposende, de resto, está malfadada para pessoas com deficiência. A minha querida amiga Ilda Daniela, portadora de doença grave, chegou a trabalhar na biblioteca, trabalho que adorava, até ao dia em que dispensaram os seus préstimos, facto que deitou um bocado abaixo a sua moral.
Esposende, à semelhança da sociedade onde nos integramos, tem ainda um longo caminho a percorrer no que toca à inclusão das pessoas com deficiência.
Para além da questão das oportunidades profissionais, observo também, ao calcorrear as ruas da cidade, que faltam acessos nas entradas de muitos estabelecimentos comerciais.
Na hora da despedida a Cristina Leites, a melhor homenagem que se poderá prestar é, pois, dar acção à política de inclusão das pessoas deficientes, a qual deverá saltar para o topo da agenda.

Sem comentários:

Enviar um comentário