quinta-feira, 10 de dezembro de 2015

Cazaquistão, o gigante distante

O Cazaquistão não é um lugar estranho, mas sim um lugar peculiar.

Sendo o Cazaquistão o 9º maior país do mundo existem nele recursos naturais em abundância, desde o gás ao urânio passando pelo ouro que catapultaram este país para o top-40 nas economias mundiais sendo hoje 2 vezes maior que a economia angolana.

Tivesse Portugal uma verdadeira diplomacia económica e hoje seria um destino normal das nossas empresas exportadoras e não seria necessário visto de entrada como já acontece com Espanha, Itália e Finlândia.

É um país de paisagens deslumbrantes, montanhas a rasgar o céu, desertos a perder de vista, tundras quase infinitas e lagos deliciosos. É um país de tribos e povos nómadas das mais diferentes proveniências, credos ou identidade étnica o que provoca uma necessidade de mediação de sensibilidades muito elevada habituadas a sobreviver a um dos climas mais rigorosos do mundo.

Não nos esqueçamos que foram destas estepes e destas tribos que saíram em 1941 os batalhões de combatentes que iriam acabar com a suposta invencibilidade do exército alemão na 2ª Grande Guerra e os correram até Berlim. 

Astana tal como todas as capitais cridas artificialmente é a marca na história de um homem que tem governado os destinos do país desde 1990, Nursultan Nazarbayev.

Nazarbayev é uma personagem omnipresente nas ruas das grandes cidades, podendo ser visto a cada 100 metros uma foto sua por qualquer motivo.

Vindo das fileiras do PCUS, chega a 1990 na posição de presidente da secção Cazaque do PCUS, o que após a desintegração soviética lhe valeu assegurar a transição para a independência do país como líder do Cazaquistão e o consequente poder. Vive num fino equilíbrio entre o Ocidente, Rússia e China, dando primazia militar a uns e primazia comercial a outros. Impressiona a sede do partido do presidente que poderia ser um pavilhão na Expo-98.

Astana foi criada para servir de exemplo máximo ao projeto de Nazarbayev para o Cazaquistão como um país moderno, com boas infraestruturas, sendo a capital dos negócios e serviços com o exterior, no centro do país para facilitar a logística de pessoas e cargas e deixar para trás Almata, a capital do país nos tempos soviéticos.

Fica na retina a estepe envolvente à cidade, dando uma aura de oásis num deserto gelado e impressiona a facilidade com que conseguimos passar de um ambiente de arranha-céus para os pântanos da tundra.

Para a sua construção foi contratado diretamente por Nazarbayev um dos mais reputados arquitectos do séc.XX, o japonês Kisho Kurokawa e as suas ideias estão bem presentes na cidade dando preferência ao desenvolvimento urbano como um ser vivo, onde a sua avenida central é o eixo de crescimento onde encontramos os principais marcos arquitetónicos e as principais forças, desde o shopping-tenda até ao Museu do Cazaquistão, passando pela empresa de gás, sede do partido Nazarbayev e a torre. Os bairros sociais, a sua função e o tipo de prédios admitidos em cada um deles ainda hoje estão muito bem definidos.

Astana é um local ainda sem muita história, daquela história que dá real vida às cidades e que cria as boas e as más zonas, os bairros emblemáticos e os problemáticos, que cria os bons e os maus cheiros da historia, é uma cidade que ainda cheira a tinta e materiais novos. Fundada em 1997, os astanenses nascidos e criados na cidade apenas terão 18 anos de idade e isso diz muito dos movimentos sociais que foram necessários para criar e povoar esta cidade .Uma cidade de serviços e de centro de negócios. 

Ainda hoje no Museu do Cazaquistão se diz que o Presidente Nazarbayev regula em termos arquitetónicos os edifícios que vão sendo construídos.

Olhando para os clubes desportivos esta intromissão na vida da cidade é bem visível. Todos recebem o nome de “clube presidencial”. Desde o Astana FC até à equipa de pólo aquático passando pelo basquete, ciclismo e a recente equipa de todo-o-terreno para competir no Dakar todos estes foram criados para serem mais um símbolo do novo Cazaquistão e competirem internacionalmente na Europa sendo apoiados pelas instituições públicas ao bom estilo soviético.

Mas a mais enigmática zona da cidade fica na zona governamental. Lá encontra-se os ministérios, palácio presidencial, supremo tribunal, senado e parlamento.

Atravessando a escada que passam entre os prédios ministeriais parece que entramos numa nova cidade, onde parece que não existem pessoas, apenas carros estacionados e elementos do exército e onde somos relembrados pela polícia que nem todos os passeios são para serem percorridos e nem todos os locais servem para tirar uma foto.

Mas se Astana é uma capital política e dos serviços, Almata é a capital da industria e do dinamismo cazaque.

Capital da região do Cazaquistão aquando da União Soviética foi concorrente derrotada aos Jogos Olímpicos de Inverno de 2020 vai organizar as Universíadas de Inverno em 2017.

Almata não vive na sombra de Astana e representa uma certa forma de contra-poder à presidencial Astana. A sua localização próxima da China e do resto da Eurásia faz com que seja utilizada como centro da indústria e da finança e dos meios de comunicação com o exterior.

Almata não tem apenas o maior centro financeiro que continua em crescimento, tem o maior parque industrial do país e é aqui que se encontram as maiores empresas sediadas. 

O seu aeroporto é o maior da região e continua em crescimento à boleia do investimento estatal na Air Astana e por ela vai passar a construção de uma auto-estrada entre a Rússia e a China.

Para além das empresas, a cidade também tem atributos turísticos apreciáveis.

As montanhas e as estâncias de esqui estão ali ao lado e é possível em 15 minutos passar do centro da cidade ao alto da montanha ou então em 2 horas estamos no grande lago.

Andando nas ruas vemos mais vida.

Vemos bons carros,vemos mais restaurantes com classe, vemos cafés e bares, vemos mais gente, vemos novos e velhos. Aqui é possível jantar e ter a agradável companhia de jovens cazaques vestidas não para um casamento mas para uma gala em plena quinta-feira laboral.

Vemos edifícios com historia, vemos monumentos que apelam à historia do país, em Almata encontramos referências aos soldados caídos em combate e isso é um mais do que um pormenor de planeamento urbanístico em relação a Astana.

Vemos vida e a vida deve ser isto, uma cidade que não precisa dos turistas para ser dinâmica, elegante e apelativa que o consegue através dos seus habitantes e do conforto que lhes consegue criar.

O Cazaquistão fica lá, mas algo me diz que não foi a última vez que lá estive. 

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