sexta-feira, 27 de fevereiro de 2015

Contas à moda de Esposende*

No passado dia 13 de Fevereiro, o Presidente da República levou a cabo uma homenagem ao poder local, condecorando 15 antigos autarcas, atento o importante contributo que as câmaras municipais deram para o desenvolvimento do país em 40 anos de democracia.
Entre os autarcas homenageados, destacou-se o antigo presidente da câmara de Murça, João Teixeira, uma vez que no próprio dia em que foi condecorado por Cavaco Silva, o Tribunal de Contas publicou a decisão de não homologação das contas daquele município, referentes aos anos de 2008, 2009 e 2010, por violação dos limites de endividamento líquido e de médio e longo prazo.
É célebre a resposta de um antigo primeiro-ministro sobre as dívidas dos Estados serem por definição eternas, pelo que, pagar a dívida é ideia de criança.
Muitos autarcas levaram à letra essa noção de gestão económica, tornando-se “craques” no depauperamento dos cofres das suas autarquias.
Nos últimos anos, foram vários os casos de candidatos autárquicos que viram a sua candidatura ser retirada, pelo respetivo partido, com base na sua acusação, pronúncia ou condenação judicial por crimes graves, como a corrupção.
Infelizmente, continua a faltar a tal crivo ético dos partidos, na seleção dos seus candidatos, a avaliação, nos aspetos a ponderar, do historial de boa gestão dos dinheiros públicos. Um político que não soube gerir os cofres públicos não pode candidatar-se a cargos que implicam a gestão dos dinheiros dos contribuintes.
Uma vez, numa aula de direito administrativo, contava o Professor que no dia em que o governo e as câmaras indicassem nas obras executadas, para além do valor orçamentado e o prazo de duração, o montante efetivamente gasto e o tempo decorrido para a concretização dos trabalhos, tal levaria a uma maior transparência no exercício dos cargos públicos e responsabilização dos seus titulares. Quem sabe se nos próximos 40 anos de democracia tal aspiração não venha a ser uma realidade…
Como esposendense, é com orgulho que vejo o meu Município surgir bem posicionado sempre que são publicados rankings sobre as Câmaras e os seus endividamentos.
No que toca a poupar nas contas, Esposende tem primado pelo exemplo, constituindo referência para muitos gestores de contas públicas sobre como não viver acima das possibilidades.
Gostaria de ter visto João Cepa ser homenageado pelo Presidente da República, à semelhança do que fez a autarquia esposendense que, muito justamente, condecorou o seu antigo titular. Na ausência do tributo presidencial, fica o reconhecimento, talvez mais importante, dos estudos e relatórios que se debruçam sobre as contas camarárias e onde Esposende não tem ficado nada mal.
No presente ano de 2015, a câmara de Esposende irá promover um desagravamento fiscal junto dos seus munícipes, só possível pela estabilidade da sua situação económico-financeira. O facto de não se remeter uma medida desta natureza apenas para ano de eleições autárquicas merece nota positiva.
Num país em que se cria uma linha de emergência financeira para socorrer municípios que não souberam cuidar bem das suas contas, bancos tornam-se maus e empresas bandeiras do país sofrem um enorme rombo, as contas à moda de Esposende parecem ser uma espécie de exceção que confirma a regra. Quem sabe se nos próximos 40 anos de democracia, a exceção não vira regra…

*Publicado no Jornal Notícias de Esposende, n.º 7/2015 - 21 a 27/Fevereiro

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