sexta-feira, 18 de setembro de 2015

Milão, a capital secreta.

“Aquilo que hoje pensa Milão, amanhã pensa-o Itália"
Adoro Milão.
Vivi aqui há cerca de 10 anos, enquanto estudante, e terão sido os meus melhores tempos da minha vida académica. Vivi quase tudo o que a cidade tinha para oferecer, desde a vida boémia à cultural e desportiva, e isso dá-me hoje um sentimento familiar quando cá estou.
Desta vez vim para visitar a Expo 2015, dedicada à comida e aos bens alimentares mas não seriam precisos muitos argumentos para me trazerem cá.
Eu ainda sou do tempo em que os aeroportos assistiam à chegada de milhares de turistas que iam directamente para Veneza, Florença e Roma. Quando  comecei a fazer alguns fins-de-semana na cidade muitos me perguntavam porque é que a visitava porque para quase todos ela não tinha nada de atrativo mas o que me atraía e atrai é a sua vida.

A sua vida que não necessita dos turistas para sobreviver e que se baseia no dinamismo dos seus habitantes. Depois de várias incursões pelo resto do país, cheguei rapidamente à conclusão de que Milão vivia numa realidade diferente do país, quer em termos de organização, vida cultural, e cosmopolitismo.
Os restaurantes são de elevada qualidade e para todos os gostos, e os bares estão sempre animados e bem frequentados, destacando-se a zona dos canais de Navigli e a minha preferida, Corso Como, com a presença de um publico mais internacional e com as modelos que estão na cidade para sessões fotográficas a darem um colorido engraçado à zona.

Mas o que mais me enche as medidas na cidade é o estádio San Siro.
O estádio é como a cidade, imponente mas discreto, não faz parte dos estádios favoritos dos adeptos mas a alma e a carga emocional que transmite é avassaladora. Este é o estádio que mais vezes visitei a seguir ao Padre Sá Pereira e enquanto cá morei fiz ponto de honra em acompanhar o AC Milan e mesmo ao 10º jogo ainda ficava maravilhado com o som e a imponência do mesmo. 
Já recebeu por 3 vezes a final da Liga dos Campeões e vai receber a 4ª em 2016 e em 2009 encheu para assistir a uma partida de rugby entre Itália e a Nova Zelândia.

Quase em jeito de celebração pessoal pela 2ª vez fui ao derby de Milão e ver o San Siro com mais de 80.000 pessoas é algo inesquecível, mas o som que vem das bancadas ainda mais inesquecível é.

Milão não está na moda, mas faz a moda.
Em vez de querer ser uma cidade querida, cool, na moda como em Portugal se quer ser, tornou-se primeiramente uma cidade com vida própria e o turismo veio como uma extensão e não como uma prioridade.
Milão é a capital económica, cultural, desportiva e académica de Itália e uma das capitais europeias nestes campos, com projetos de investimento do estado central mas com a união e cartelização da suas forças vivas e era este exemplo que o Porto e a região Norte deveriam ter e deixaram a veia turística para outras núpcias.

Roma vive para os milaneses quase como uma capital de fachada, tal como Washington nos EUA, Brasília no Brasil e Camberra na Austrália. É normal que uma empresa internacional tenha a sede aqui e não em Roma, é normal que os grupos musicais nas suas digressões mundiais passem por Milão e não por Roma.
Aqui é onde os salários são mais altos, o poder de compra é maior, as universidades são mais conhecidas, onde estão os principais teatros e salas de espetáculos, os maiores estádios e pavilhões e onde as estações e aeroportos são os mais importantes do país.

Apostou na congregação das exposições de diversos sectores chave da economia italiana e hoje alberga a feira do calçado, mobiliário, moda e design industrial mais importante do mundo.
Não sendo a capital do pais já recebeu a Expo em 1906 e em 2015, recebeu a primeira central elétrica da Europa entre outras coisas. Se a Lombardia fosse um país seria a 6ª maior economia da zona Euro e isso diz muito do que é a vivacidade desta cidade e da região.  

No dia em que o Porto e a região Norte quiserem verdadeiramente ser uma opção a Lisboa, vão perceber que não o serão sendo o “melhor destino para férias” ou “melhor fim-de-semana romântico” de um site qualquer ou de um qualquer jornal.
Será necessário fazer obras que não enchem as páginas do jornais, gastar dinheiro em vias de comunicação em vez de animação de rua, o metro vai ter de chegar a quem trabalha e não a quem frequenta os espaços de diversão noturnos e os principais negócios terão de ser a venda de máquinas e não hotéis de 3 estrelas. Em suma, gastar dinheiro em quem aqui mora e não em quem nos visita.
Nenhuma cidade, ou país, que se entregue ao turismo tem um bom nível de vida a quem lá mora e trabalha e se quiserem provem-me que estou enganado.
E a Expo 2015? Parecia que estava nos anos 80: Portugal nunca ia aos mundiais e tínhamos de torcer pelos outros.

Não percebi como numa exposição de comida, bens alimentares e agricultura Portugal não disse presente. A Gâmbia foi lá vender o cacaué, o Turquemenistão o algodão, o Mónaco as ostras, a Moldávia o mel, a Rússia os cereais e a Coreia do Norte (isso mesmo) foi lá publicitar os seus produtos com base no ginseng.
Ao contrário da Expo 98, a aposta aqui foi em poucos pavilhões para o “pós-Expo” e deixar uma zona requalificada para o futuro mas com possibilidade de serem construídos pavilhões industriais nesta zona.  Se por um lado são menos encargos futuros, por outro não se garante que o investimento tenha retorno e utilização do espaço no futuro,
Milão fica para trás, mas com certeza que voltarei.

Sem comentários:

Enviar um comentário