O Cazaquistão não é um lugar estranho, mas sim
um lugar peculiar.
Sendo o Cazaquistão o 9º
maior país do mundo existem nele recursos naturais em abundância, desde o gás
ao urânio passando pelo ouro que catapultaram este país para o top-40 nas
economias mundiais sendo hoje 2 vezes maior que a economia angolana.
Tivesse Portugal uma
verdadeira diplomacia económica e hoje seria um destino normal das nossas
empresas exportadoras e não seria necessário visto de entrada como já acontece
com Espanha, Itália e Finlândia.
É um país de paisagens
deslumbrantes, montanhas a rasgar o céu, desertos a perder de vista, tundras
quase infinitas e lagos deliciosos. É um país de tribos e povos nómadas das
mais diferentes proveniências, credos ou identidade étnica o que provoca uma
necessidade de mediação de sensibilidades muito elevada habituadas a sobreviver
a um dos climas mais rigorosos do mundo.
Não nos esqueçamos que
foram destas estepes e destas tribos que saíram em 1941 os batalhões de
combatentes que iriam acabar com a suposta invencibilidade do exército alemão
na 2ª Grande Guerra e os correram até Berlim.
Astana tal como todas as
capitais cridas artificialmente é a marca na história de um homem que tem
governado os destinos do país desde 1990, Nursultan Nazarbayev.
Nazarbayev é uma
personagem omnipresente nas ruas das grandes cidades, podendo ser visto a cada
100 metros uma foto sua por qualquer motivo.
Vindo das fileiras do
PCUS, chega a 1990 na posição de presidente da secção Cazaque do PCUS, o que
após a desintegração soviética lhe valeu assegurar a transição para a
independência do país como líder do Cazaquistão e o consequente poder. Vive num
fino equilíbrio entre o Ocidente, Rússia e China, dando primazia militar a uns
e primazia comercial a outros. Impressiona a sede do partido do presidente que
poderia ser um pavilhão na Expo-98.
Astana foi criada para
servir de exemplo máximo ao projeto de Nazarbayev para o Cazaquistão como um
país moderno, com boas infraestruturas, sendo a capital dos negócios e serviços
com o exterior, no centro do país para facilitar a logística de pessoas e cargas
e deixar para trás Almata, a capital do país nos tempos soviéticos.
Fica na retina a estepe
envolvente à cidade, dando uma aura de oásis num deserto gelado e impressiona a
facilidade com que conseguimos passar de um ambiente de arranha-céus para os
pântanos da tundra.
Para a sua construção foi
contratado diretamente por Nazarbayev um dos mais reputados arquitectos do
séc.XX, o japonês Kisho Kurokawa e as suas ideias estão bem presentes na cidade
dando preferência ao desenvolvimento urbano como um ser vivo, onde a sua
avenida central é o eixo de crescimento onde encontramos os principais marcos
arquitetónicos e as principais forças, desde o shopping-tenda até ao Museu do
Cazaquistão, passando pela empresa de gás, sede do partido Nazarbayev e a
torre. Os bairros sociais, a sua função e o tipo de prédios admitidos em cada
um deles ainda hoje estão muito bem definidos.
Astana é um local ainda
sem muita história, daquela história que dá real vida às cidades e que cria as
boas e as más zonas, os bairros emblemáticos e os problemáticos, que cria os
bons e os maus cheiros da historia, é uma cidade que ainda cheira a tinta e
materiais novos. Fundada em 1997, os astanenses nascidos e criados na cidade
apenas terão 18 anos de idade e isso diz muito dos movimentos sociais que foram
necessários para criar e povoar esta cidade .Uma cidade de serviços e de centro
de negócios.
Ainda hoje no Museu do
Cazaquistão se diz que o Presidente Nazarbayev regula em termos arquitetónicos
os edifícios que vão sendo construídos.
Olhando para os clubes
desportivos esta intromissão na vida da cidade é bem visível. Todos recebem o nome de “clube
presidencial”. Desde o Astana FC até à equipa de pólo aquático passando pelo
basquete, ciclismo e a recente equipa de todo-o-terreno para competir no Dakar
todos estes foram criados para serem mais um símbolo do novo Cazaquistão e
competirem internacionalmente na Europa sendo apoiados pelas instituições
públicas ao bom estilo soviético.
Mas a mais enigmática
zona da cidade fica na zona governamental. Lá encontra-se os ministérios,
palácio presidencial, supremo tribunal, senado e parlamento.
Atravessando a escada que
passam entre os prédios ministeriais parece que entramos numa nova cidade, onde
parece que não existem pessoas, apenas carros estacionados e elementos do
exército e onde somos relembrados pela polícia que nem todos os passeios são
para serem percorridos e nem todos os locais servem para tirar uma foto.
Mas se Astana é uma
capital política e dos serviços, Almata é a capital da industria e do dinamismo
cazaque.
Capital da região do
Cazaquistão aquando da União Soviética foi concorrente derrotada aos Jogos
Olímpicos de Inverno de 2020 vai organizar as Universíadas de Inverno em 2017.
Almata não vive na sombra
de Astana e representa uma certa forma de contra-poder à presidencial Astana. A
sua localização próxima da China e do resto da Eurásia faz com que seja
utilizada como centro da indústria e da finança e dos meios de comunicação com
o exterior.
Almata não tem apenas o
maior centro financeiro que continua em crescimento, tem o maior parque
industrial do país e é aqui que se encontram as maiores empresas sediadas.
O
seu aeroporto é o maior da região e continua em crescimento à boleia do
investimento estatal na Air Astana e por ela vai passar a construção de uma
auto-estrada entre a Rússia e a China.
Para além das empresas, a
cidade também tem atributos turísticos apreciáveis.
As montanhas e as
estâncias de esqui estão ali ao lado e é possível em 15 minutos passar do
centro da cidade ao alto da montanha ou então em 2 horas estamos no grande
lago.
Andando nas ruas vemos
mais vida.
Vemos bons carros,vemos
mais restaurantes com classe, vemos cafés e bares, vemos mais gente, vemos
novos e velhos. Aqui é possível jantar e ter a agradável companhia de jovens
cazaques vestidas não para um casamento mas para uma gala em plena quinta-feira
laboral.
Vemos edifícios com
historia, vemos monumentos que apelam à historia do país, em Almata encontramos
referências aos soldados caídos em combate e isso é um mais do que um pormenor
de planeamento urbanístico em relação a Astana.
Vemos vida e a vida deve
ser isto, uma cidade que não precisa dos turistas para ser dinâmica, elegante e
apelativa que o consegue através dos seus habitantes e do conforto que lhes
consegue criar.
O Cazaquistão fica lá,
mas algo me diz que não foi a última vez que lá estive.
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