quarta-feira, 23 de dezembro de 2015

Regresso ao passado*

Consumado o empossamento do XXI Governo Constitucional, chefiado por António Costa, o PSD Esposende descortinou, de imediato, um mérito no respectivo programa de governo (disponível em www.portugal.gov.pt).
Com efeito, encontra-se nele previsto a seguinte medida programática: “Avaliar a reorganização territorial das freguesias, estabelecendo critérios objetivos que permitam às próprias autarquias aferir os resultados da fusão/agregação e corrigir os casos mal resolvidos (pág. 90).”
Também o anterior presidente esposendense, João Cepa, num comentário publicado na rede social Facebook, no dia 24 de Novembro, não perdeu a oportunidade para manifestar o desejo de que a promessa eleitoral socialista de permitir aos municípios anularem a Reforma Administrativa, seja cumprida.
Pergunto-me, nestas ocasiões, por que é que Benjamim Pereira ou João Cepa, entre outros, que sempre se opuseram à agregação de freguesias com menos de 1.500 habitantes numa só, nunca pugnaram, também, pela desagregação da outrora freguesia de Marinhas em várias. É que se a União de Freguesias de Palmeira de Faro e Curvos ou a União de Freguesias de Rio Tinto e Fonte Boa, com menos de 6.000 habitantes cada, geram agora mais ineficiência, então o que dizer da antiga freguesia de Marinhas, antes da reorganização, com os seus mais de 6.000 habitantes?
Num concelho marcado pela sua pequena dimensão geográfica e que, felizmente, não é caracterizado pelo isolamento da população, como sucede em muitos concelhos do interior, que se encontram desertificados face à (e)migração de muitos dos seus residentes, manter irredutivelmente a posição do “orgulhosamente sós com as 15 freguesias” não é, de todo, racional.
Julgo que o leitor retira daqui o ridículo que é voltar a dividir o concelho em mais juntas de freguesia quando a dimensão territorial do mesmo não gera grandes distâncias. Não vejo qualquer virtualidade no processo (a não ser que fosse para corrigir algum caso pontual e não, como parecem pretender, voltar a colocar tudo na estaca zero), excepto a oportunidade eleitoralista de criar mais uns lugares autárquicos, que sempre dão jeito para alimentar as bases dos partidos locais.
Como sempre defendi, a reorganização encontrada para o concelho de Esposende pode não ter sido a melhor, mas negar o processo de reforma, ab initio, como fizeram os partidos locais, não foi a melhor resposta às exigências que o progresso e as constantes mutações das realidades sócio-económicas colocam aos responsáveis políticos.
O facto de a coligação PàF ter ganhado no concelho com maioria absoluta, é revelador do quanto os esposendenses se mostraram receptivos ao programa socialista e, em especial, à eventual reposicão das freguesias extintas.
No ano novo que se avizinha, o tema da reorganização do mapa das freguesias do concelho ameaça voltar a dominar a agenda política local. O assunto não assume prioridade na lista de preocupações dos munícipes. Torná-lo prioritário será um péssimo sinal. Espero que Esposende não arrisque dar esse passo atrás.

*Publicado no Jornal Notícias de Esposende, n.º 47/2015 - 19 Dezembro

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