terça-feira, 23 de fevereiro de 2016

O bom, o mau e o vilão

Em boa hora decidiu o Município de Esposende evocar, de forma perene, todos aqueles que o serviram na qualidade de presidente da câmara, desde a implantação da República até aos dias de hoje. 
Ao longo dos 105 anos de republicanismo em Portugal, Esposende, em sintonia com o país onde se insere, atravessou diversos períodos de turbulência ou acalmia políticas, desde o Estado Novo até à fase eufórica da entrada na CEE, passando pela actual geringonça.
Muitos dos presidentes de câmara foram-no pelas circunstâncias do tempo em que viveram, não porque tivessem querido escolher liderar os destinos do Município num período de asfixia ou liberdade democráticas.
Como tal, embora elogie o tributo público a todos quantos presidiram o Município de Esposende, não me parece feliz que hajam murais separados, distinguindo os bons (da democracia) dos maus (do Estado Novo, vulgarmente conhecido como período da ditadura em Portugal) ou dos vilões (dos primórdios da república).
Concedo que se trate de uma questão de opção (ou de gosto, se preferirem) - por exemplo, na página do Governo, fazem essa destrinça relativamente aos Primeiros-Ministros, mas já na página da Presidência da República, não existe essa distinção quanto aos Presidentes.
Pessoalmente, porém, preferiria um mural único para todos os presidentes, sem distinções de épocas. Não há presidentes da câmara de Esposende de primeira, nem de segunda.

P.S. Sobre a polémica relacionada com a ausência de Tito Evangelista do mural dos democratas - para os mais esquecidos, Tito Evangelista foi o vereador que substituiu Alberto Figueiredo da presidência, tendo depois sido afastado por este por divergências várias, o que levou a que abandonasse o PSD e concorresse, em lista do PS, nas eleições autárquicas seguintes - desconheço se Tito Evangelista foi caso único na história da presidência da câmara, bem como não me recordo de qual o período efectivo em que presidiu à câmara. 
Estrategicamente, optou-se por considerar apenas os presidentes que lideraram em virtude de renúncia ou falecimento do seu predecessor, excluindo do critério a suspensão de mandato.
Pessoalmente, se Tito, ou outro na mesma situação, liderou a câmara apenas por uns meses, parece-me válida a opção tomada. Agora, se em virtude da suspensão de um autarca, o seu substituto presidiu à câmara por mais do que 1 ano, trata-se, neste caso, de um período temporal considerável, o que, em abono da história, deveria levar a que também fizesse parte do mural.

Adenda: com a devida vénia ao João Paulo Torres, acresce dizer que também se dispensava a distinção entre Doutores e Engenheiros. Nem a presidência da República faz isso, nem tão pouco o Governo. A função de presidente da câmara não foi melhor, ou pior exercida em função do título académico do seu protagonista, ou da sua falta. 

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