Longe vão os tempos em que a Associação
Desportiva de Esposende (ADE) batia-se contra históricos do futebol
português, que hoje militam na 1.ª Liga, como Académica e Belenenses. Ou em que
a presença no Jamor esteve à mísera distância de 90 minutos.
Foram anos breves mas intensos, em que
o clube ganhou uma projeção como nunca dantes vista, e a cidade
animava-se, quinzenalmente, com a presença de dezenas de forasteiros que vinham
apoiar a sua equipa.
Após a sua segunda participação na 2.ª Liga
(1999/2000), a ADE entrou numa espiral descendente, com
sucessivas despromoções, encontrando-se, atualmente, a disputar a
Série A da Divisão de Honra da Associação de Futebol de Braga, onde também
se encontram Forjães e Vila Chã.
Jogando em escalões competitivos modestos, a ADE foi
perdendo algum do seu protagonismo para outras equipas do concelho e muitos
foram os sócios e adeptos que, progressivamente, afastaram-se, deixando de
acompanhar e participar na vida desportiva do clube.
Mergulhada nas profundezas do futebol português e
votada ao esquecimento, a ADE arriscava a retirar-se da vida desportiva ativa
de forma inglória.
Costuma dizer-se que os verdadeiros amigos revelam-se
nas horas más e, felizmente para a ADE, que um bom punhado de sócios do clube
atravessou-se no período mais crítico e conturbado da história da associação,
para reerguê-la dos escombros resultantes da queda livre desde a 2.ª Liga.
No estádio Pe. Sá Pereira, as centenas de sócios e
adeptos que preenchiam, quinzenalmente, o estádio, deram lugar a poucos, mas
bastante valorosos, apoiantes que continuam a incentivar a sua equipa de sempre,
como sempre, jogue esta contra o Belenenses ou contra o Viatodos.
Alberto Bermudes, presidente da Assembleia-Geral, tem
sido um autêntico número “10” da instituição, baluarte na composição e
estabilidade dos órgãos sociais do clube, contribuindo, de forma decisiva, para
a restauração da credibilidade da ADE. É também conhecido o apoio financeiro
que presta, e de que não faz qualquer publicidade, a algumas iniciativas do
clube, em particular das suas escolinhas. Sem o seu envolvimento, teria sido
muito mais complicado para a ADE dobrar o cabo das tormentas em que se
envolveu, como muitos outros clubes de futebol a norte, depois de anos
desafogados, vivendo acima das possibilidades.
No último domingo teve lugar o jantar de Natal da ADE,
evento que contou com a participação de quase 300 pessoas, incluindo atletas de
todos os escalões competitivos em que o clube está inserido, técnicos, pais e
familiares de atletas, dirigentes, patrocinadores e alguns autarcas.
Foi especial ver os últimos presidentes do clube,
Carlos Barros, José Magalhães, Ricardo Cruz e José Rego participarem no
encontro. Também aí a ADE começa a fazer a diferença na sua própria história,
com os seus últimos principais dirigentes a não renegarem o clube, nem a
desaparecerem do estádio Pe. Sá Pereira.
Como referia o vereador Rui Pereira na sua intervenção
durante o jantar, nos últimos tempos vai-se assistindo, nas iniciativas sociais
levadas a cabo pela ADE, a um número cada vez maior de participantes, no que
representa um importante sinal de vitalidade da instituição e de esperança
quanto a um futuro mais promissor da associação desportiva mais emblemática do
concelho. Foram palavras importantes e significativas, que ecoaram pelas
dezenas de mesas, e que animam todos os que se relacionam na vida do clube a
dedicarem-se ainda com maior empenho.
Ganhar o futuro. Assim se apresenta o desafio da ADE.
Apesar das dificuldades financeiras e da grande concorrência promovida por
clubes vizinhos na captação de atletas, a ADE percorre o seu caminho, de forma
consciente, sem ceder à tentação de entrar em novas loucuras.
João Ferreira, atual presidente do clube, conhecido
pelo rigor orçamental e disciplina financeira, tem encetado, juntamente com a
sua equipa diretiva, um importante trabalho nessas vertentes, não descurando,
todavia, a componente desportiva do clube, em particular a formação mais jovem.
Não sei se a ADE voltará a parar a cidade por causa de
um jogo de futebol nos próximos 5 ou 10 anos. Sei, no entanto, que a
participação entusiasta e numerosa registada no seu jantar de Natal confirma a
velha máxima de Mark Twain, no caso readaptada: a notícia da morte da ADE foi,
manifestamente, exagerada.
*Publicado no Jornal Notícias de Esposende, n.º 50/2014, 13 de Dezembro
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