terça-feira, 16 de dezembro de 2014

Ganhar o Futuro*

Longe vão os tempos em que a Associação Desportiva de Esposende (ADE) batia-se contra históricos do futebol português, que hoje militam na 1.ª Liga, como Académica e Belenenses. Ou em que a presença no Jamor esteve à mísera distância de 90 minutos. 
Foram anos breves mas intensos, em que o clube ganhou uma projeção como nunca dantes vista, e a cidade animava-se, quinzenalmente, com a presença de dezenas de forasteiros que vinham apoiar a sua equipa.
Após a sua segunda participação na 2.ª Liga (1999/2000), a ADE entrou numa espiral descendente, com sucessivas despromoções, encontrando-se, atualmente, a disputar a Série A da Divisão de Honra da Associação de Futebol de Braga, onde também se encontram Forjães e Vila Chã.
Jogando em escalões competitivos modestos, a ADE foi perdendo algum do seu protagonismo para outras equipas do concelho e muitos foram os sócios e adeptos que, progressivamente, afastaram-se, deixando de acompanhar e participar na vida desportiva do clube.
Mergulhada nas profundezas do futebol português e votada ao esquecimento, a ADE arriscava a retirar-se da vida desportiva ativa de forma inglória.
Costuma dizer-se que os verdadeiros amigos revelam-se nas horas más e, felizmente para a ADE, que um bom punhado de sócios do clube atravessou-se no período mais crítico e conturbado da história da associação, para reerguê-la dos escombros resultantes da queda livre desde a 2.ª Liga.
No estádio Pe. Sá Pereira, as centenas de sócios e adeptos que preenchiam, quinzenalmente, o estádio, deram lugar a poucos, mas bastante valorosos, apoiantes que continuam a incentivar a sua equipa de sempre, como sempre, jogue esta contra o Belenenses ou contra o Viatodos. 
Alberto Bermudes, presidente da Assembleia-Geral, tem sido um autêntico número “10” da instituição, baluarte na composição e estabilidade dos órgãos sociais do clube, contribuindo, de forma decisiva, para a restauração da credibilidade da ADE. É também conhecido o apoio financeiro que presta, e de que não faz qualquer publicidade, a algumas iniciativas do clube, em particular das suas escolinhas. Sem o seu envolvimento, teria sido muito mais complicado para a ADE dobrar o cabo das tormentas em que se envolveu, como muitos outros clubes de futebol a norte, depois de anos desafogados, vivendo acima das possibilidades. 
No último domingo teve lugar o jantar de Natal da ADE, evento que contou com a participação de quase 300 pessoas, incluindo atletas de todos os escalões competitivos em que o clube está inserido, técnicos, pais e familiares de atletas, dirigentes, patrocinadores e alguns autarcas.
Foi especial ver os últimos presidentes do clube, Carlos Barros, José Magalhães, Ricardo Cruz e José Rego participarem no encontro. Também aí a ADE começa a fazer a diferença na sua própria história, com os seus últimos principais dirigentes a não renegarem o clube, nem a desaparecerem do estádio Pe. Sá Pereira.
Como referia o vereador Rui Pereira na sua intervenção durante o jantar, nos últimos tempos vai-se assistindo, nas iniciativas sociais levadas a cabo pela ADE, a um número cada vez maior de participantes, no que representa um importante sinal de vitalidade da instituição e de esperança quanto a um futuro mais promissor da associação desportiva mais emblemática do concelho. Foram palavras importantes e significativas, que ecoaram pelas dezenas de mesas, e que animam todos os que se relacionam na vida do clube a dedicarem-se ainda com maior empenho.
Ganhar o futuro. Assim se apresenta o desafio da ADE. Apesar das dificuldades financeiras e da grande concorrência promovida por clubes vizinhos na captação de atletas, a ADE percorre o seu caminho, de forma consciente, sem ceder à tentação de entrar em novas loucuras.
João Ferreira, atual presidente do clube, conhecido pelo rigor orçamental e disciplina financeira, tem encetado, juntamente com a sua equipa diretiva, um importante trabalho nessas vertentes, não descurando, todavia, a componente desportiva do clube, em particular a formação mais jovem.
Não sei se a ADE voltará a parar a cidade por causa de um jogo de futebol nos próximos 5 ou 10 anos. Sei, no entanto, que a participação entusiasta e numerosa registada no seu jantar de Natal confirma a velha máxima de Mark Twain, no caso readaptada: a notícia da morte da ADE foi, manifestamente, exagerada.

*Publicado no Jornal Notícias de Esposende, n.º 50/2014, 13 de Dezembro  

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