Antes de mais, faço
já a minha declaração de interesses dizendo que nada tenho contra a marca em
questão, nem que tenho algum interesse nesta área de negócios.
Como muitos já devem
ter verificado, recentemente foi inaugurada uma nova loja na Rua Direita da
rede Multiópticas e um posto de abastecimento da Prio nas antigas instalações
da Cipol na EN13. Não tenho nenhum problema
com a abertura destas lojas já que, acima de tudo, vieram ocupar instalações que
estavam quase ao abandono, no caso da bomba de gasolina, e outro que se poderia
arrastar por demasiado tempo no centro da cidade mas as suas aberturas, na minha
qualidade de comum cidadão, levantam-me algumas interrogações a dois níveis.
A primeira questão é a sustentabilidade destes negócios.
Sei que me dirão que o natural correr do negócio se
encarregará de mostrar se estes estabelecimentos têm clientela ou se ainda têm
mercado para se manterem e crescerem, mas tenho a percepção que oculistas
e ópticas em Esposende já existem em bom número e só à custa das lojas já
existentes é que poderá crescer, o que com a máquina de publicidade que a
Multiópticas tem e a capacidade de
resposta em termos de variedade e de preços dos seus produtos faz com que o
futuro dos lojistas já existentes seja cinzento.
No caso da gasolineira, o meu
espanto não é tão grande, já que grande parte dos seus concorrentes estão na
zona Esposende/Gandra e naquela parte do concelho existiam poucos postos de
abastecimento mas com a abertura do posto da Repsol e a renovação do posto da
Galp, parece-me que a sua sobrevivência se vai basear nos preços baixos
praticados pela Prio e que vai afetar todos os outros concorrentes.
A segunda questão que eles me levantam é o ordenamento urbanístico
em termos de comércio.
Não espero que Esposende seja diferente do restante país. Andando pelas ruas de Portugal é fácil reparar que hoje em dia o número de
lojas encerradas é muito maior do que há 4 anos atrás e que as zonas comerciais
estão votadas ao abandono mas é nestas alturas que é preciso reorganização.
Andando
pelas ruas de Esposende é fácil perceber que existem muitas lojas abandonadas, principalmente no seu centro e zona sul.
As galerias
comerciais Rodrigues Sampaio, a Praça Dom Frei Bartolomeu Dias e as ruas
adjacentes, e quase todas as ruas da zona Sul que têm acesso ao Bairro Social e
ao Cemitério, são um bom exemplo disso.
Se não existe nenhum
paternalismo da minha parte para com a marca “Nélia”, sei também que seria
necessário e desejável que os espaços comerciais na Rua Direita e Largo
Rodrigues Sampaio sofressem alguma diversificação e esses espaços não se
tornassem espaços-fantasmas a partir das 18:00.
Seria importante e desejável que
existissem locais que levassem pessoas e vida a estes locais e que não fossem apenas
centros de negócios. Se Esposende quiser
ser uma cidade de turismo e agradável a quem nos visita é importante que as
nossas principais ruas possam ter vida.
Alguns dir-me-ão que as lojas também são um atrativo, e
eu responderei “Certamente”, mas esse cenário ainda é algo longe, já que seria
necessário que o turismo que nos visita sofresse uma mutação em termos de
capacidade financeira dos mesmos. Conheço uma vila muito simpática na Suiça que faz das lojas na rua principal uma
atração, mas ainda não chegamos a esse nível, tenho pena.
É necessário perceber por parte das diversas entidades se a
forma como estão distribuídas as licenças para comércio e que licenças estão a
ser atribuídas neste momento. Confesso aqui a minha ignorância neste campo, mas
se podemos limitar a hora de abertura dos espaços noturnos e a própria abertura
destes certamente, poderemos fazer este rastreio e a orientação dos mesmos.
Como habitante faz-me confusão que haja apenas 1 local para
comprar o jornal em toda a zona sul (e é junto à rotunda da Solidal) enquanto
se tropeça em cafés a cada 100 metros e que quase não existam escritórios
apesar de haver edifícios com lojas que nunca as viram ocupadas.
Mas para fazer este tipo de alterações é necessário fornecer
algumas infraestruturas, tal como estacionamento, serviços de apoio, facilidades
em alteração de desenho das lojas e de arquitetura. Não podemos esperar que se
abram lojas em locais com dificuldades de estacionamento e passeios reduzidos. As
mesmas facilidades que foram dadas a quem se instalou na Zona Industrial e que permitiu que diversos negócios se lá
instalassem que poderiam estar na cidade e que intensificaram ainda mais a
desertificação no comércio.
Como já escrevi muitas vezes neste blogue, é altura de
tomarmos nas nossas mãos a nossa cidade.
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