quarta-feira, 6 de maio de 2015

Pelas ruas de Belgrado

Onde existe uma bela mulher, existe vida.

Belgrado, sendo absurdamente repleta de belas mulheres, tem vida dentro dela, muitíssima vida.

Mas não apenas de belas mulheres são feitas as ruas de Belgrado.
Pelo seu interesse histórico a União Soviética é o meu amor, mas a Jugoslávia é a minha paixão. 
Foi com o seu desmembramento que ganhei interesse pela política internacional e pela geopolítica, desde a Guerra da Bósnia, até aos bombardeamentos pela NATO em 1999, acabando na queda do poder por parte de Milosevic. Belgrado vivia na minha imaginação como uma das capitais europeias mais politizadas e onde as ideologias viviam mais entranhadas. Não estava longe da verdade...
Nestas ruas o cheiro da geopolítica internacional é intenso e em cada rua vemos bandeiras, grafitis, sinais de correntes políticas com uma intensidade a que já não estamos habituados a ver no nosso dia-a-dia e que muitos pensavam esquecidos.

Nas suas ruas é possível descortinar sinais de apoio aos separatistas pró-russos na Ucrânia, t-shirts com a sigla “Kosovo é Sérvia", existem bancas que vendem camisolas com a cara de Milosevic, Karadzic e Mladic, antigos generais sérvios procurados pelo Tribunal Penal Internacional para a ex-Jugoslávia, e imagens do assassino do príncipe Franz Ferdinand. 

Não vemos quase nenhumas foices e martelos nos edifícios governamentais, mas o mausoléu do General Tito continua bem cuidado e quase imaculado. Surpreende-me que a sua figura continue a ser muito consensual, existindo lojas de recordações apenas com a sua imagem, mas a Jugoslávia parece ser algo de um passado muito distante e que ainda mais distante ficou com o aparecimento do nacionalismo sérvio pós-desmembramento.
Pelos edifícios das suas ruas vemos o dedo da história e o toque das diversas correntes que governaram estas paragens, que são a verdadeira prova que esta cidade viveu no epicentro dos mais diversos momentos históricos na Europa. Tal como em quase tudo, até nos seus edifícios esta cidade mostra que respira política.

Se no seu centro deslumbramos os edifícios descendentes da época do império Austro-húngaro, com o seu estilo clássico e enriquecido, rapidamente passamos para os edifícios pós-2ª Guerra Mundial, com a arquitetura concreta comunista de linhas retas e formas geométricas simples a dominarem os bairros sociais e os edifícios governamentais da antiga Jugoslávia terminando nos edifícios de vidro e inox da Nova Belgrado que nasce junto às margens do rio Sava.

Mas os edifícios que ficam na retina são os edifícios centrais do exército e da televisão sérvia que foram bombardeados em 1999. Ainda hoje se conservam tal como ficaram depois de serem bombardeados para que sirvam de memória às gerações passadas e de aviso às gerações futuras. 

Mas se estes serviram de memória, outros há que serviram de exemplo na recuperação deste país. A torre Usce voltou a erguer-se marcando o início da nova Belgrado, a bombardeada ponte de Ostružnica foi reparada e nasceu a ponte de Ada, a maior ponte de pilar único no mundo.

E até nesta recuperação a Sérvia é um rendilhado político. Se no tempo do General Tito a Jugoslávia vivia uma distância prudente de Moscovo e vivia numa constante aproximação ao Ocidente, hoje a Sérvia mostra-se cada vez mais reticente na adesão à União Europeia e próxima da Rússia. 

Pelas suas ruas é possível deslumbrar um significante número de cartazes da Gazprom, caminhos-de-ferro russos ou o Sberbank a fazer a exaltação das boas relações entre os 2 países.  Até o Hotel Moscovo que aqui existe é o único hotel com o nome da cidade fora da Rússia. 

Esta Sérvia olha com desconfiança para o que o futuro na União Europeia lhe reserva, começando a ponderar se é preferível fazer o seu caminho calmamente ou se ser um súbdito da Alemanha lhe vai permitir trazer o investimento necessário para a encher os bairros financeiros da Nova Belgrado. Certamente terá de efetuar um interessante número de equilibrismo entre a integração europeia e o reforçar de laços com Moscovo.
Mas não apenas de belas mulheres e política se faz Belgrado.
Não foi por acaso que o website TripAdvisor lhe atribui a distinção de “Cidade a Visitar em 2015” na Europa. Estivesse Belgrado na Europa Central, maiores facilidades de acesso ou publicidade mais positiva e já a teríamos visto em todas as reportagens de viagem nos jornais e revistas de viagens. Surpreendentemente esta cidade esquece o rio Danúbio e apenas ouvimos falar no Rio Sava e na sua frente marítima.
Os seus restaurantes são de elevada qualidade, ficando na memória os quase omnipresentes jardins de inverno e as orquestras de 5 elementos que faziam a música ambiente para a sala de jantar e os bons pratos de carne, em especial o bife da Dalmácia, e a tarte de noz Sérvia. Aqui não poderei deixar de referir o Madera e o Clube dos Escritores que além da vista sobre os magníficos parques que os rodeiam ainda conservam o desumidificador de charutos, carrinho de bebidas e o guarda pastilha-elástica.
Os parques são endémicos, existindo um em quase todas as esquinas e nos parques principais já temos pistas de tartan específicas para os corredores, evitando o amotinado com os restantes frequentadores do parque. 

Para quem gosta de turismo religioso, Belgrado também é uma boa surpresa já que sendo a capital da Igreja Ortodoxa Sérvia é possível ver aqui algumas das maiores igrejas do mundo Ortodoxo que paulatinamente vão sendo recuperadas mas os efeitos das sanções económicas ainda se fazem sentir com muitos dos edifícios a necessitarem de alguma limpeza e de alguma recuperação para ser mais atraente para o turista comum.
Ao bom estilo do leste europeu, os sorrisos não são abundantes mas também as tentativas de roubo são quase nulas e existe uma ideia de civilização. As pessoas deixam as suas carteiras e pertences nos bancos do jardim enquanto dão a sua corrida e em muitos casos não é necessário semáforos para que se respeitem as passadeiras e a prioridade dos peões.
Voltem-me a chamar de mulherengo, tarado, rabo-de-saia, pouco me importa, mas as belas mulheres desta cidade são mais do que um bom motivo para a visitar.
Elas transformam as ruas em passadeiras de moda, as esplanadas parecem agências de modelos, nas mais inusitados lugares descobrimos raparigas de uma beleza incrível e cada viagem num transporte público é mais um convite a um deslumbramento. 

Com o seu estilo clássico-chique, surpreende como é que num país onde os salários são 25% mais baixos do que em Portugal  e onde as grandes marcas de roupa quase não existem, o nível de apresentação das pessoas é tão elevado sendo substituídas pelas lojas das modistas, palavra quase esquecida no nosso dia-a-dia. 

Olhando para as sérvias vemos claramente os benéficos efeitos da prática desportiva integrada na educação em comparação com a visão singapuriana da educação e os seus testes, estudo compenetrado, notas e grandes conhecimentos de matemática.
Já tinha lido que esta era uma das cidades com as mais bonitas mulheres do mundo e hoje acho que não sendo verdade absoluta poderia andar lá perto.
Se algum jovem rapaz solteiro estiver a pensar em visitar Belgrado, aconselho vivamente que vista o blazer e  calce o sapato clássico e vá ao Kasina durante o fim-de-semana, de certeza que tão cedo não se vai esquecer da ambiência da melhor discoteca da cidade.
Belgrado ficou para trás mas algo me diz que esta não foi a última vez aqui.

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