Sou contra a caridade.
Na minha opinião numa sociedade desenvolvida a caridade não
existe, já que as instituições vindas da sociedade civil não devem tomar o
lugar das instituições públicas/estatais no apoio às pessoas que têm maior
carências.
A caridade sempre foi um apanágio das sociedades altamente
desniveladas, que garante a subsistência dos mais pobres, sempre características
de Estados pouco sociais, a caridade dá o peixe em vez de o ensinar a pescar.
Se não acreditam, basta recordar as declarações de Passos
Coelho sobre esta temática quando disse que a retirada dos apoios sociais não
era problemática porque essas pessoas poderiam pedir ajuda às instituições de
caridade. Isto é mais tenebroso do que uma declaração de guerra.
Podemos discutir a diferença entre apoio social e caridade,
e que tipos de caridade é que existem, mas isso seria outro artigo completo.
No último sábado decorreu uma iniciativa nas ruas centrais
de Esposende que roçou uma cena de um filme de Fellini. Dispostas estavam
diversas mesas com diversos produtos em especial produtos alimentares, que
estavam expostos para serem levados pelas pessoas carenciadas que por lá passavam
ou que queriam levar sem pagar nada.
Toda esta cena roçou o ridículo e o humilhante.
Se as pessoas querem dar os produtos e ajudar os mais
necessitados deveriam ter uma lista de pessoas que necessitam dessa ajuda e um local próprio para as pessoas carenciadas
se deslocarem e levantarem lá os produtos.
Colocar bancas com produtos grátis para serem levantados
pelas pessoas carenciadas numa das mais movimentadas zonas de Esposende à
frente de todos os que passam na rua é no mínimo rebaixante para quem tem de se
deslocar a elas, a pobreza envergonhada é uma realidade, é um direito que
assiste às pessoas.
A pobreza, a incapacidade de colocar comida na mesa é do
domínio do privado das pessoas, não do domínio público. A pobreza, quando
extrema, é um daqueles poucos assuntos que não se aligeira por se falar nele,
ou que consiga ser desmistificado ou desconstruido com o tempo.
Que as pessoas o queiram fazer não me choca, mas este
esforço deve ser concertado e deve ser feito com o máximo de respeito pelo bom
nome e imagem de quem o recebe.
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