sábado, 14 de junho de 2014

Uma vida errante ?

  Todos o conhecemos, todos já o vimos nas ruas, no Modelo, na Marginal, na Rua Direita. Todos já conhecemos o seu espetáculo de rua, as suas roupas provocantes e desconcertantes, a sua língua destravada e propensão para se meter com quem passa e para responder num tom agressivo-sexual que faz dele as delícias de quem nos visita. Ele é o habitante mais conhecido de Esposende, com inúmeros vídeos na Internet e que representa Esposende no imaginário de muitas pessoas por Portugal fora e aqui falo por experiência própria.

 Falo do “Juju” de Gandra!
  Como declaração de interesses, digo que não sou um psiquiatra, psicólogo, ou que tenha alguma formação a nível medicinal nesses campos. Falo como “pessoa desta vida” e que já teve o prazer de conhecer diversas pessoas de diversas orientações a todos os níveis e que em nada se revêem neste tipo de atitudes e de comportamentos.
  Pessoalmente, acho que a sua postura não deriva de uma suposta homossexualidade e de um desejo de travestismo, orientações que penso que não lhe assistem, mas sim de uma necessidade de atenção e uma desequilíbrio psiquiátrico que se vêm avolumando de ano para ano.

 Quem o foi conhecendo nestes últimos anos sabe que o seu comportamento agressivo e belicoso tem vindo a aumentar, que as suas exibições públicas cada vez mais tendem a ser nos momentos de maior aglomerado de pessoas e que, para seu gáudio, resultam em inúmeros vídeos no Youtube. E, no entanto, a sociedade civil e pública continua a não prestar a atenção  a este caso, o que levanta-me algumas questões  que penso que são pertinentes.
  Como pode este caso passar em claro às autoridades responsáveis pela saúde pública?  Pelo comportamento agressivo crescente  que ele vem demonstrando, não estará na altura das autoridades conterem esta pessoa colocando-o em instituições de recuperação ou de saúde onde ele possa ser recuperado para o convívio em sociedade? Pessoalmente, defendo que deva ser avaliado psiquiatricamente e de seguida ser acompanhado em conformidade com o diagnóstico. Teremos de esperar que o seu comportamento se torne de tal forma agressiva que chegue a agressões físicas para se atuar?
 Podem dizer-me que ele deseja uma mudança de sexo, mas seria então desejável que fosse colocado em lista de espera para a tal operação e que fosse sujeito à avaliação psiquiátrica decorrente desse processo e pudesse definir o seu futuro.
 Mas se as autoridades públicas nada podem fazer, caberia à sociedade civil ajudar este elemento.
 Seria necessário o seu acompanhamento e enquadramento numa rotina normal e numa rotina de inclusão social para se desligar desta imagem auto-destrutiva e construída com o único intuito de chamar a atenção de quem passa, dar alguma vida a um elemento da nossa sociedade que necessita da nossa ajuda, dar um maior significado à sua pessoa enquanto cidadão.

 Sei que alguns me dirão que não tenho o direito  de conter esta pessoa só por achar que tem um comportamento diferente, mas se fosse uma outra qualquer pessoa a fazer o que ele faz, o que não se diria se nada fosse feito? O que se diria se outra qualquer pessoa no meio da rua insultasse quem passa? O que se diria se a GNR virasse as costas às queixas sobre outra qualquer pessoa como faz com ele? A liberdade dele acaba onde a nossa começa, e pelo pouco que percebo de leis de saúde pública e de ordem pública sei que pessoas com doenças contagiosas ou com doenças do foro psiquiátrico têm de ser contidas pelas autoridades competentes quer haja queixas ou não, é uma questão de saúde e de ordem pública e para o bem da comunidade, e este espetáculo decadente a que assistimos precisa de um fim. Sei que para ser internado teriam de existir diligências por parte da família, mas isso não é impeditivo de haver ajudas externas.
 Não o quero punir, nem o quero sacrificar, nem fazer dele um exemplo, apenas recuperar uma vida.
  Percebo que derivado dos anos de Estado Novo a sociedade portuguesa sobrevaloriza e sacraliza as liberdades individuais sobre a sociedade e o seu bem-estar mas recuso-me a viver numa sociedade que convive com uma bomba-relógio que sabe que vai explodir mas nada faz porque a bomba está no jardim do vizinho e não o pode invadir, mesmo quando a bomba vai destruir a rua inteira.
 O que não quero é um dia acordar e receber a notícia de que o “Juju” foi encontrado numa valeta  qualquer depois de ter sido espancado, ou algo pior, como já aconteceu no passado. Nesse dia a minha o dedo estará apontado às autoridades, às instituições e à sociedade civil por nada terem feito e por terem tido a oportunidade de evitar uma tragédia.
 Vamos todos esperar que o pior aconteça para nos lamentarmos? Vamos esperar que o mal chegue para ponderar-mos o que podia ter sido evitado? Espero que não.

Lembram-se do “Caso Gisela” ?

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