quinta-feira, 20 de novembro de 2014

A hora do CDS (ou talvez não)

A vida partidária esposendense dos últimos 15, 20 anos tem sido caracterizada por uma solene tranquilidade.
As lideranças das comissões políticas concelhias de PSD e PS sucedem-se umas às outras, sem oposição nem contestação internas. 
Nas eleições autárquicas, a estabilidade é, igualmente, a marca dominante de PSD e PS. 
O PSD, como poder autárquico no concelho, repetiu o seu candidato à presidência (Alberto Figueiredo e João Cepa), o mesmo se passando com o PS, segunda maior força política local, que apresentou o mesmo candidato em sucessivas eleições (Tito Evangelista e João Nunes).
Como qualquer boa regra tem a sua excepção, também neste caso surge uma força política local a distinguir-se, quanto à sua estabilidade interna, das duas principais forças políticas esposendenses, ainda que não pelas melhores razões. Falo do CDS-PP de Esposende.
O CDS-PP de Esposende que, a par do PSD, foi o único partido a ter conquistado a presidência da Câmara de Esposende, parece viver, de há muitos anos para cá, a sua «belenização»
Para os menos familiarizados, a expressão «belenização», tomada emprestada ao mundo da bola, serve para caracterizar o Belenenses, clube respeitado do nosso campeonato. O Belenenses conquistou há dezenas de anos atrás o título nacional, numa época em que rivalizava com Benfica, Sporting e Porto, sendo um clube com bastantes adeptos. Tal serviu para forjar o epíteto de 4.º grande do futebol português. 
No entanto, os momentos gloriosos vividos em tempos idos não mais se repetiram e o Belenenses perdeu protagonismo no plano competitivo, verificando também uma quebra acentuada no seu número de adeptos. Tudo isso somado permitiu que outros clubes disputassem com o Belenenses a propriedade da marca de 4.º grande do futebol português. Sem títulos e com estádio sempre vazio, muitos adeptos do Belenenses continuam, porém, a viver à sombra das épocas gloriosas, acreditando que o Belenenses ainda é um grande do futebol português.
Com o CDS-PP de Esposende parece viver-se a mesma história. 
O partido foi o maior no concelho, em tempos idos, mas desde Laurentina Torres (a última presidente popular na câmara) que já se passaram demasiados anos para que essa lembrança do CDS-PP como maior força política de Esposende apenas esteja na consciência das gerações mais velhas.
Para as gerações mais novas, o CDS é o eterno 3.º lugar em Esposende. No entanto, muitos militantes do partido ainda não se desligaram totalmente da década de 80 do século passado, quando o CDS era poder autárquico, e tanto na condução interna do partido, como na própria abordagem às campanhas eleitorais, parecem agir sob essa memória.
A progressiva perda de relevância autárquica em Esposende tem sido causa e efeito de uma estratégia errática do CDS na forma de fazer oposição e, sobretudo, na preparação das campanhas eleitorais.
Um partido que muda de candidato, de eleição para eleição, dá um péssimo sinal ao eleitorado quanto à confiança e estabilidade necessárias que se exigem de um partido que se propõe ser governo autárquico.
A instabilidade que se verifica na composição eleitoral do CDS de 4 em 4 anos acaba por ser reflexo da própria instabilidade interna que tem dominado o partido há já vários anos, em que militantes históricos afastaram-se desiludidos pelo rumo que o partido seguiu, e outros militantes dedicaram-se a conspirar contra outros. O CDS perde militantes, perde votos, definha, e há quem pareça não (querer) ver isso...
Para além da instabilidade referida, outro aspecto que tem minado o CDS é a sua permanente incapacidade de conseguir liderar a oposição na câmara e na assembleia municipal.
Decorrido 1 ano desde as últimas eleições autárquicas, o panorama é, francamente, desolador. Não se tem dado pelo CDS na Câmara ("Fazer o que ainda não foi feito" ainda não tomou acção a partir da aparelhagem da vereadora popular), nem tão pouco na Assembleia Municipal. 
Talvez por força dessa percepção generalizada entre militantes e eleitores, ou apesar dela, é que no próximo sábado o CDS-PP de Esposende irá a eleições para a sua comissão política concelhia. Pela primeira vez, em muitos anos, duas listas (protagonizadas por Joaquim Escrivães e João Pedro Lopes, respectivamente) apresentam-se a terreiro para disputar o lugar de líder concelhio do partido.
Estas eleições internas que, à partida, se perspectivavam como uma oportunidade de clarificação interna e de criar um novo élan para o combate político autárquico, arriscam-se, todavia, a ser uma ocasião perdida. Vários sinais apontam para isso.
Desde logo, o facto de a Mesa do Plenário Concelhio não se ter também demitido aquando da demissão da comissão política concelhia, como a mais elementar solidariedade entre órgãos justificaria. A decisão da Mesa em se manter em funções torna-se ainda mais incompreensível quando os seus membros, por imperativo estatutário, terão de ir a eleições no início do próximo ano. Ora, o facto da actual Mesa do Plenário ser afecta a uma das listas concorrentes (Joaquim Escrivães) gera o risco de, em caso de vitória da outra lista concorrente (João Pedro Lopes), se criar um clima de tensão permanente entre os órgãos internos, o que não augura nada de bom.
Por outro lado, o facto de João Pedro Lopes, ao longo dos últimos meses, ter criticado, nas suas intervenções, o desempenho autárquico de Berta Viana e de esta, em resposta, ter desferido um violento ataque às intenções de João Pedro Lopes para o partido, fazem recear o pior perante o cenário em que João Pedro Lopes saia como vencedor do acto eleitoral do próximo sábado e Berta Viana permaneça como vereadora. O CDS arrisca-se a viver numa permanente esquizofrenia, em que a concelhia política propõe e se pronuncia num sentido, enquanto a sua vereadora vota o seu contrário. Será um CDS a dois tempos.
Na ausência de uma terceira via, que congregasse os melhores elementos de cada uma das sensibilidades internas, no próximo sábado os militantes do CDS terão que se pronunciar sobre qual é a equipa e programa político que pretendem para o seu partido nos próximos dois anos.
De um lado, Joaquim Escrivães a liderar uma equipa formada por vários dos últimos candidatos autárquicos do CDS em Esposende. A ausência de intervenção política nos últimos anos e o desconhecimento sobre as propostas que tem para o concelho colocam uma grande interrogação neste candidato. 
Do outro lado, João Pedro Lopes, antigo líder da JP de Esposende, que nos últimos meses tem intervindo de forma bastante activa no panorama político local, e propõe-se posicionar o CDS como um partido de relevo local. A animosidade que parte da ala bertista tem para consigo indicia um possível clima de guerrilha que o esperará em caso de vitória.
Várias interrogações pairam, assim, no ar, ensombrando o futuro político próximo do CDS-PP de Esposende. Se o acto eleitoral será suficiente para a clarificação e estabilidade do partido nos próximos dois anos é a questão do momento para 1 milhão de euros...

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