terça-feira, 11 de novembro de 2014

O bom pastor

Nos idos de Setembro, do ano de 1996, cumprida que estava a emocionante cerimónia de Profissão de Fé, no meio das saudações entre familiares, catequistas e amigos também acabados de fazer a sua comunhão solene, eis senão quando o meu avô agarra, carinhosamente, pelo meu braço e diz-me: "Vamos ali à Sacristia!".
Aí chegados, na sua introdução característica, "Dá licença, Monsenhor?", o meu avô pergunta ao Monsenhor se não se importaria de assinar uma dedicatória num livrinho azul, que instantes antes tinha sido oferecido a todos quantos acabavam de ter realizado a sua Profissão de Fé. Esse livrinho azul era, muito apropriadamente para aquela cerimónia solene, a Bíblia. A minha primeira Bíblia.
O Monsenhor, generosamente, acedeu ao pedido feito pelo meu avô e, então, imprimiu, pelo seu punho, a dedicatória que ilustra este post, a qual não poderia ser melhor introdução para um livro que, desde essa data, me guia e acompanha.
Enquanto o Monsenhor assinava, recordo-me de o meu avô dizer-me que essa dedicatória conferia maior solenidade ao importante livro que tinha acabado de me ser oferecido, e que seria, seguramente, uma boa maneira de perpetuar um acontecimento marcante na minha vida de cristão.
Este episódio, de que guardo viva memória, tem sido protagonista dos meus pensamentos do dia de hoje. Uma recordação nostálgica que surge, lado a lado, com a tristeza pela notícia do falecimento do Monsenhor. 
Quando, pelos finais, de Setembro, avistei o Monsenhor, certamente num dos seus passeios pela cidade, junto à Igreja (onde melhor poderia ser?), após alguns anos sem nos vermos, estava longe de imaginar que aquele seria o nosso último encontro.
O ar abatido e doente, impressionou-me. Mas, mesmo apesar disso, o Monsenhor não deixou de saudar-me de forma fraterna e amiga. Trocámos umas breves palavras e despedimo-nos. Tinha sido bom rever o Monsenhor, depois de muitos anos. 
Hoje, quando penso nisso, fico contente por, ainda que não o soubesse, me ter conseguido despedir dele e que, esse encontro, tivesse ocorrido, debaixo de um tempo fantástico, de forma muito fraterna.
O Monsenhor foi o "Padre". Da minha terra e das centenas de missas que participei na minha meninice e juventude cristãs. Foi com o Monsenhor que fiz a minha primeira confissão. Foi com o Monsenhor que tive memoráveis aulas de catequese, uma delas havida dentro da própria Igreja. Foi com o Monsenhor que, durante vários anos, fui acólito, participando de forma mais intensa nas Eucaristias. 
É certo que a Fé é um dom de Deus e que o nosso crescimento nela depende, primeiramente, de nós, do nosso acolhimento da Palavra. Mas não há dúvidas que muito do crescimento, da fortaleza nos momentos maus, e da temperança, depende do personal trainer na Fé que nos for confiado. 
Felizmente para mim e milhares de gerações de esposendenses que fomos privilegiados com o Monsenhor. A forma dedicada, empenhada e generosa com que se dedicou a servir a Deus e servir Deus ao próximo, constituiu um exemplo e uma marca na (nossa) vivência da Fé.
O Monsenhor Baptista de Sousa foi um bom pastor e um pastor bom. Deo gratias!

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