quarta-feira, 30 de abril de 2014

Esposendenses pelo Mundo (3)

Luciana Torres, 30 anos, natural de Forjães, é engenheira Química e reside em Maastricht, Holanda, onde trabalha.

Em terras de moinhos de vento e tulipas, de Van Gogh e Descartes, da mundialmente conhecida Philips e do maior porto de mar da Europa (Roterdão) fomos falar como esta jovem esposendense espalhada pelo mundo, e conhecer um pouco da sua história e das suas impressões sobre a Holanda e Portugal, nunca esquecendo, claro está, a terra que a viu nascer e crescer. 

Imagem: Luciana Torres

Há quanto tempo vives na Holanda?
Vim para a Holanda em Abril de 2007, portanto há 7 anos.

Qual foi a primeira coisa que te impressionou no novo país ao cabo dos primeiros dias?
Já não me lembro muito bem (risos) ...  Mas acho que foram o número de bicicletas, as casas todas iguais com divisões muito pequenas, mas todas com jardim, e a atitude muito pragmática e directa dos holandeses.

 Foi necessário aprenderes uma nova língua, ou o inglês serve para tudo?
O nível de inglês na Holanda é muito bom, a maioria dos holandeses fala fluentemente inglês. 
Quem quiser integrar-se na sociedade deve aprender holandês, mas não é fácil porque quando alguém tenta falar holandês, os holandeses  imediatamente percebem que não somos nativos e mudam para o inglês. 
No meu caso, sempre trabalhei em empresas internacionais em que o inglês é a língua oficial. Fiz vários cursos de holandês e sou capaz de comunicar em holandês, mas não o faço com muita frequência no meu dia a dia.

Chegaste à Holanda através do projecto Erasmus, quais as vantagens e desvantagens deste projecto, visto por alguém que o viveu?
Eu não fiz Erasmus na Holanda, mas na Finlândia. Quando terminei o curso vim para a Holanda fazer uma pós-graduação e arranjei emprego cá. 
Em relação ao programa Erasmus só vejo vantagens, permite conhecer outras realidades/culturas e claro testar se viver fora do pais é uma coisa que seremos capazes de fazer.

Desde o final do curso, sempre trabalhaste fora de Portugal, não sentias que Portugal te dava oportunidades?
No meu caso, eu já saí de Portugal antes desta nova vaga de migração em 2011-2012. Eu sempre quis sair de Portugal por duas razões, primeiro porque sempre tive interesse em viver fora, e segundo porque já na altura sabia que as oportunidades que teria em Portugal eram limitadas. 
A indústria química em países como o Reino Unido, Alemanha, Holanda não é comparável à Portuguesa.


Imagem: Maastricht, Holanda

Quais as grandes diferenças que notas entre Portugal e a Holanda?
Exemplos das diferenças mais óbvias:
. Comida – A Holanda não tem pratos tradicionais, aqui comer é para viver, não se vive para comer. O melhor exemplo é o almoço, o típico almoço holandês, é uma sandes de pão escuro com uma fatia de queijo. O almoço dura entre 15 a 20 minutos.

Família - O conceito de família está muito mais enraizado em Portugal, os laços familiares não são tão estreitos na Holanda como em Portugal. Eu acho que visito mais os meus pais do que alguns colegas meus holandeses.

. Hierarquia no local de trabalhoAqui todos somos iguais, todos se tratam por tu, pelo primeiro nome. Não há cá Sr.doutores/engenheiros. O ambiente de trabalho é muito informal. Numa reunião de trabalho todos tem direito a ter opinião, é muito democrático. Eu nunca trabalhei em Portugal mas tenho a certeza que a realidade é muito diferente.

Apesar de algumas diferenças óbvias eu gosto sempre de referir, que as diferenças culturais existem mas não são extremas!

Como caracterizas o típico “Holandês”?
O típico holandês é “outspoken”, diz sempre o que pensa, é directo e muito pragmático. São, também, conhecidos por serem sovinas, muito agarrados ao dinheiro, estão sempre a tentar fazer uma “goedkoop”, tradução directa é “boa compra”, e quer dizer comprar barato! 

Que visão têm os Holandeses sobre Portugal e os Portugueses?
Antes da crise, os comentários que eu ouvia eram sempre em relação a Portugal como um bom destino de ferias. Depois do resgate, a comunicação social na Holanda pintou o retrato de Portugal como sendo “o bom aluno” comparativamente com a Grécia. A maioria das pessoas com quem eu falo, acha que Portugal esta a trabalhar arduamente para sair da má situação económica.

Como vês Esposende a partir da Holanda?
Vejo que Esposende continua a ser uma cidade muito agradável para se viver.
A mais valia de Esposende é o facto de ser uma cidade pequena mas relativamente perto de cidades de maiores dimensões como Braga, Porto. É uma cidade muito “Family friendly” e que na sua essência não mudou muito nos últimos anos.

O que achas que deveria ser aplicado a Esposende, cuja aplicação na zona onde vives funcionaria?Uma das coisas que eu mais gosto na Holanda é o facto de todas as cidades (pequenas ou grandes) estarem ligadas por serviços de transporte públicos (comboio). Como é óbvio, o facto de o pais ser pequeno, e ter uma elevada densidade populacional ajuda.
Por exemplo, eu não tenho carro, vou de comboio para todo o lado. Seria óptimo que isso fosse possível em Esposende, que não fossemos tão dependentes dos carros.

Quem visita a Holanda, que lugar e que prato não pode perder?
Lugar, sem dúvida Amesterdão
Por ser uma cidade tão diferente de todas as outras em termos de construção com os canais, as típicas casas holandesas e claro as centenas de bicicletas. 
Há imensas coisas sempre a acontecer em Amesterdão, desde festivais, concertos, museus para visitar. 
É imperdível! 
Quem puder vir à Holanda em Abril/Maio, recomendo uma visita ao famoso Jardim Keukenhof.
O Jardim só está aberto durante esse período do ano, e é possível ver as famosas tulipas holandesas de todas as cores e feitios. 
Em relação à comida, eu acho que a gastronomia holandesa é um ponto completamente “perdível”. Não existe, neste pais, nenhuma tradição culinária digna de experimentar.


Imagem: Jardim Keukenhof, Amesterdão, Holanda

Para além da família e amigos, o que sentes mais saudades de Esposende?
O mar (risos); apesar de Holanda ter costa, eu moro a 2-3 horas do mar, então sinto sempre falta do mar (para não falar do sol)!

Ao voltar a Esposende qual o lugar que te apetece sempre voltar?
A casa, eu sempre fui muito “caseira”. Se pudesse, sempre que visito a família, nem saía de casa (risos).
Mas claro que um passeio pela marginal é indispensável!


Esposendenses pelo Mundo” é uma rubrica que pretende dar a conhecer os “esposendenses” espalhados pelos 4 cantos do mundo, partilhando as suas impressões sobre os novos lugares que habitam, os povos e culturas com quem convivem, e o seu olhar sobre a terra que os viu nascer e crescer.
Se conheces algum “esposendense” espalhado pelo mundo, ou se és tu próprio um “esposendense” espalhado pelo mundo, e gostasses de ver a sua/tua história aqui partilhada, escreve para largodospeixinhos@gmail.com, com indicação do nome, país e contacto de e-mail ou FB. 

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