quarta-feira, 2 de julho de 2014

Os guardiães do templo (de sabedoria)

Morreu o Senhor Pimentel.
E, com a notícia, regresso por instantes aos meus 15 anos, altura em que ingressei no liceu.
Para muitas gerações de esposendenses, o Senhor Pimentel era o primeiro contacto na Escola Secundária Henrique Medina. Dia após dia, mês após mês, ano após ano.
Ao fim de algum tempo, gera-se uma relação de cumplicidade com o porteiro da escola. São as conversas corriqueiras sobre a nossa terra e o mundo; as tentativas (infrutíferas) para sair da escola em horário de aulas; ou o vigiar o pavilhão enquanto se joga uma futebolada.
O Senhor Pimentel tinha porte imponente, e cumpria muito a sério a sua missão. Jogou muitos anos futebol em Angola (se não estou errado, creio ter sido mesmo campeão por lá) e muito raramente algum aluno conseguia sair da escola em tempo de aula.
A notícia do seu falecimento faz evocar anos importantes e decisivos da minha formação, estudantil e humana. Desse tempo, o Senhor Pimentel é uma figura indissociável.
Outro porteiro marcante, e que aproveito para recordar neste espaço, foi o Senhor Carvoeiro. Comunista devoto e um verdadeiro portista dos 7 costados, o Senhor Carvoeiro era a primeira bandeira do ciclo. Tantas e tantas conversas que foram trocadas junto do seu posto de comando. Quase sempre sobre o seu Porto e os outros grandes. Até causava impressão como é que um Senhor tão afável e bom conversador podia ser comunista. Mas isso nunca foi pretexto para beliscar a enorme empatia tida para com o Senhor Carvoeiro, cujo falecimento há alguns anos atrás foi também sentido.
Senhor Pimentel e Senhor Carvoeiro. Os guardiães dos templos de sabedoria do concelho de Esposende. Eram as primeiras imagens à chegada às escolas, e também a última imagem delas. Souberam imprimir um tom responsável no exercício das suas funções, aturando com bonomia as irreverências próprias de idades mais novas. Dois rostos que se tornaram símbolos das escolas onde trabalharam, marcando gerações de esposendenses.

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