sábado, 31 de outubro de 2015

Esposende Rádio: uma crise sem fim à vista

A Esposende Rádio é património imaterial do concelho de Esposende.
Durante largos anos, em que não havia internet e a televisão resumia-se a 2 canais públicos apenas (a que mais tarde juntaram-se 2 canais privados), a Esposende Rádio foi o referencial de informação e animação do concelho.
De modo especial, recordo-me de muitas tardes desportivas do domingo, em que acompanhava o relato dos jogos da Associação Desportiva de Esposende, com passagem pelo meio por outros campos onde jogavam o Marinhas, Fão, Apúlia ou Forjães.
Outra grata recordação é a que se prende com a noite eleitoral das autárquicas, em que ficávamos a saber pela Esposende Rádio, em primeira mão, os resultados globais e de cada uma das freguesias.
Muitos outros ouvintes guardarão especial saudade do popular programa “Discos Pedidos”, um clássico entre muitas rádios locais.
Com o advento da internet, dos canais por cabo ou por internet, muitos órgãos de comunicação social, desde a imprensa escrita passando pela rádio local, não conseguiram acompanhar a evolução dos tempos, acabando por ser ultrapassados na curva.
Recordo-me de um dia um gerente de uma grande empresa nacional ligada ao sector automóvel ter contado que nos anos 80 do século passado comprou um livro sobre as 100 maiores empresas de Portugal. Volvidos mais de 20 anos, quando voltou, por curiosidade, a pegar nesse livro reparou que grande parte dessas empresas já não existia.
Nos últimos anos, a Esposende Rádio sobreviveu sobretudo graças à carolice e disponibilidade de um punhado de valorosos esposendenses que, dando acção à sua paixão pela telefonia, asseguraram uma programação que, longe de ser a mais completa possível, tentou, pelo menos, fazer cumprir a missão pública que presidiu à fundação da Esposende Rádio.
Nos últimos meses, a Esposende Rádio tornou-se, pelas piores razões, uma carregada sombra de um passado outrora fulgurante.
Sem locutores, com uma programação inexistente, e com os constantes rumores sobre as graves dificuldades financeiras da empresa que detém a sua licença, coloca-se um enorme ponto de interrogação sobre o futuro da Esposende Rádio, um dos mais antigos órgãos de comunicação social do concelho e que no ano passado foi distinguida pelo Município pelos seus 25 anos de actividade.
Esta semana, João Cepa, director do Esposende Acontece, voltou a desmarcar-se de notícias que apontavam-no como potencial interessado na gestão da rádio. No entanto, não deixou de manifestar apreensão pelo estado da rádio local, sugerindo até uma intervenção por parte do Município, designadamente na realização de publicidade através da rádio.
Pessoalmente, entendo que, por princípio, não é bom que um órgão de comunicação local fique bastante dependente dos dinheiros que vêm do Município. O pluralismo e opinião livre ficam condicionados. Por outro lado, o Município não pode acudir a uma empresa privada que não se modernizou, nem soube procurar fontes de receita alternativas.
Em todo o caso, parece-me pertinente que se debata o estado actual da comunicação social local e, no caso concreto da Esposende Rádio, se tentem descortinar alternativas para que o serviço público em Esposende continue também a ser feito a partir da telefonia. A esse título, encontra-se em curso uma petição pública que apela a uma nova direcção da rádio.
É um dever de todos os esposendenses não deixar apagar um bem inestimável e que nos acompanha por toda a vida: a rádio local.  O serviço público prestado a milhares de esposendenses, com destaque para aqueles que residem fora do país, impõe que a rádio continue a ser uma realidade no concelho.

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