Caro Benjamim Pereira,
As instituições são as pessoas, e são as pessoas que lhe dão
alma e vida, que lhe conferem personalidade e o seu carisma. O carisma da
Câmara Municipal mede-se pela forma como os seus máximos representantes falam e se expressam e ao ouvir o seu discurso
no Dia do Município fiquei preocupado.
O endeusamento de
João Cepa ficou claro quando falou nas obras em curso , como sabe melhor do que
eu, a adjudicação é a última fase do concurso que já se encontravam em curso e
o Benjamim os finalizou e os terá de executar e como bem sabe, quase todas as
obras de que o anterior executivo se orgulha foram financiadas pelo programa
Polis e outros similares, sem os quais as obras estariam quase na mesma. Mas este
endeusamento continua quando apelida a prestação do seu antecessor como “ímpar”,
“referência nacional”, “visão estratégica”, “ irrepreensível”.
Ora vejamos alguns factos concretos: Esposende continua a
ter um nível de salários abaixo da média nacional, um nível de pessoas com
formação de ensino superior abaixo da média nacional, ainda não se eliminaram as barracas, a abertura de novas empresas é inexistente, as pessoas
continuam a usar a cidade como dormitório, os hotéis não estão cheios, o comércio local definha etc. Tudo
isto me parece mais do que suficiente para o Benjamim ser mais comedido na
adjetivação da anterior administração.
Preocupa-me que o Benjamim utilize um discurso demasiado dado
ao sebastianismo, uma demonstração de excessivo respeito como se nos
descansasse que ele um dia voltará numa manhã de nevoeiro mas também uma
desculpabilização antecipada, uma certa salvaguarda sua como se colocasse o seu
antecessor num pedestal tão elevado que todos pensem que é impossível
alcança-lo, mas tenho-lhe a dizer Benjamim que desde Yuri Gagarin o céu já não
é o limite.
O Benjamim fala na participação cívica e voluntária, na necessidade
da crítica construtiva, e na
sobreposição dos interesses da coletividade perante os individuais. Não poderia concordar mais consigo Benjamim,
mas para atingirmos este estado de consciência social é necessário a construção
de uma qualidade de vida nas populações que as leve a pensar em algo mais do que
sobreviver no dia-a-dia, que as leve a
pensar em algo mais do que a satisfação das suas necessidades básicas .
E para atingirmos essa qualidade de vida não nos poderemos
apenas entregar ao turismo, à boa cozinha e à diversão. Sei que neste espaço sempre defendi (e o
defenderei) o turismo e dei algumas
ideias para o turismo, mas o turismo não é o garante de um ordenado elevado,
estável e com potencialidade para crescer, mas sim a indústria, as fábricas, o
sector secundário que cria riqueza e transforma matéria-prima em produtos de
valor acrescentado. Sem o aumento da qualidade de vida dos Esposendenses o pedido de abandono das suas necessidades pessoais por uma causa maior e para
abandonarmos as críticas aos orgãos de soberania para abraçarmos o trabalho cívico são os mesmos argumentos utilizados pelos estados e
governantes “musculados” pelo mundo fora .
Sabemos que as pessoas não perfeitas, não são robots e nem
mesmo os robots são perfeitos posso-lhe garantir, mas o Benjamim foi eleito
para um cargo de chefia, um cargo de decisão onde é preciso visão, ação e
clarividência e esse tem sido o seu grande defeito.
O Benjamim ainda não percebeu que a presidência da Câmara é
uma função para a qual foi eleito e que é pago para tal, por todos nós, e que é
a nós que nos deve explicações e mostrar progressos e não guardar para si os
projetos e ideias. Esposende não lhe foi doada, mas sim emprestada para o
Benjamim a fazer crescer. O Benjamim ainda não percebeu que o seu passado
académico, político e laboral foi o responsável para ser vice-presidente da Câmara
(e como deve ser), mas não foi esse passado o responsável pela sua eleição como
presidente da Câmara, mas sim o ideal, o sonho que conseguiu passar às pessoas,
o carisma.
O carisma não se consegue falando consecutivamente no seu
antecessor, não se consegue falando no que se poderá fazer, não se consegue falando
das glórias passadas. A instituição Câmara Municipal corre o risco de surgir aos olhos da
população como uma instituição plácida, imóvel, bafienta mesma, com este latente sebastianismo.
Até a sua ausência na cerimónia foi um
ato político, transformando uma ausência numa não-presença mais comentada que a
putativa presença do próprio.
Existe uma altura na vida de um homem em que matamos o pai
psicologicamente , apenas na nossa cabeça entendamos bem, em que nos apercebemos que os nossos
progenitores nada mais podem fazer por nós e teremos de seguir em frente e o
Benjamim, como homem político, precisa de matar na sua cabeça o seu pai
político o quanto antes.
Pelo nosso bem…
Cumprimentos
Manuel Gomes Pereira
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