sexta-feira, 22 de agosto de 2014

Carta a Benjamim Pereira

Caro Benjamim Pereira,

As instituições são as pessoas, e são as pessoas que lhe dão alma e vida, que lhe conferem personalidade e o seu carisma. O carisma da Câmara Municipal mede-se pela forma como os seus máximos representantes  falam e se expressam e ao ouvir o seu discurso no Dia do Município fiquei preocupado.
O endeusamento  de João Cepa ficou claro quando falou nas obras em curso , como sabe melhor do que eu, a adjudicação é a última fase do concurso que já se encontravam em curso e o Benjamim os finalizou e os terá de executar e como bem sabe, quase todas as obras de que o anterior executivo se orgulha foram financiadas pelo programa Polis e outros similares, sem os quais as obras estariam quase na mesma. Mas este endeusamento continua quando apelida a prestação do seu antecessor como “ímpar”, “referência nacional”, “visão estratégica”, “ irrepreensível”.
Ora vejamos alguns factos concretos: Esposende continua a ter um nível de salários abaixo da média nacional, um nível de pessoas com formação de ensino superior abaixo da média nacional, ainda não se eliminaram as barracas, a abertura de novas empresas é inexistente, as pessoas continuam a usar a cidade como dormitório, os hotéis não estão cheios, o comércio local definha etc. Tudo isto me parece mais do que suficiente para o Benjamim ser mais comedido na adjetivação da anterior administração.
Preocupa-me que o Benjamim utilize um discurso demasiado dado ao sebastianismo, uma demonstração de excessivo respeito como se nos descansasse que ele um dia voltará numa manhã de nevoeiro mas também uma desculpabilização antecipada, uma certa salvaguarda sua como se colocasse o seu antecessor num pedestal tão elevado que todos pensem que é impossível alcança-lo, mas tenho-lhe a dizer Benjamim que desde Yuri Gagarin o céu já não é o limite.
O Benjamim fala na participação cívica e voluntária, na necessidade da crítica construtiva,  e na sobreposição dos interesses da coletividade perante os individuais. Não poderia concordar mais consigo Benjamim, mas para atingirmos este estado de consciência social é necessário a construção de uma qualidade de vida nas populações que as leve a pensar em algo mais do que sobreviver no dia-a-dia,  que as leve a pensar em algo mais do que a satisfação das suas necessidades básicas .  
E para atingirmos essa qualidade de vida não nos poderemos apenas entregar ao turismo, à boa cozinha e à diversão. Sei que neste espaço sempre defendi (e o defenderei) o turismo e dei algumas ideias para o turismo, mas o turismo não é o garante de um ordenado elevado, estável e com potencialidade para crescer, mas sim a indústria, as fábricas, o sector secundário que cria riqueza e transforma matéria-prima em produtos de valor acrescentado. Sem o aumento da qualidade de vida dos Esposendenses o pedido de abandono das suas necessidades pessoais por uma causa maior e para abandonarmos as críticas aos orgãos de soberania para abraçarmos o trabalho cívico são os mesmos argumentos utilizados pelos estados e governantes “musculados” pelo mundo fora .
Sabemos que as pessoas não perfeitas, não são robots e nem mesmo os robots são perfeitos posso-lhe garantir, mas o Benjamim foi eleito para um cargo de chefia, um cargo de decisão onde é preciso visão, ação e clarividência e esse tem sido o seu grande defeito.
O Benjamim ainda não percebeu que a presidência da Câmara é uma função para a qual foi eleito e que é pago para tal, por todos nós, e que é a nós que nos deve explicações e mostrar progressos e não guardar para si os projetos e ideias. Esposende não lhe foi doada, mas sim emprestada para o Benjamim a fazer crescer. O Benjamim ainda não percebeu que o seu passado académico, político e laboral foi o responsável para ser vice-presidente da Câmara (e como deve ser), mas não foi esse passado o responsável pela sua eleição como presidente da Câmara, mas sim o ideal, o sonho que conseguiu passar às pessoas, o carisma.
O carisma não se consegue falando consecutivamente no seu antecessor, não se consegue falando no que se poderá fazer, não se consegue falando das glórias passadas. A instituição Câmara Municipal corre o risco de surgir aos olhos da população como uma instituição plácida, imóvel, bafienta mesma, com este latente sebastianismo. Até a sua ausência na cerimónia foi um ato político, transformando uma ausência numa não-presença mais comentada que a putativa presença do próprio.
Existe uma altura na vida de um homem em que matamos o pai psicologicamente , apenas na nossa cabeça entendamos bem, em que nos apercebemos que os nossos progenitores nada mais podem fazer por nós e teremos de seguir em frente e o Benjamim, como homem político, precisa de matar na sua cabeça o seu pai político o quanto antes.   
Pelo nosso bem…
Cumprimentos
Manuel Gomes Pereira

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