terça-feira, 5 de agosto de 2014

Emigração académica, um rumo?

Com a emigração laboral certamente assistiremos ao fenómeno da emigração académica, uma emigração que passa pelas pessoas emigrarem para outros países em buscas das oportunidades de cursos superiores que em Portugal não existem e pela busca de menores gastos para esses mesmos cursos.
Aceito que este tema deva ser tratado a um nível regional e até nacional, mas penso que no Minho poderíamos já ter algumas experiências neste campo para percebermos a aceitação e a dimensão do fenómeno.

Este fenómeno já ocorre com alguma frequência entre os países da Europa Central que compartilham o alemão como língua oficial, em que os estudantes da Áustria e Alemanha já promovem o intercâmbio, estando este fenómeno a alastrar-se a estudantes do Reino Unido, Irlanda, França e a algumas regiões de Itália que, com a abertura da Roménia, Bulgária e Croácia, têm a oportunidade de obter os seus cursos superiores com a mesma qualidade mas a preços muito mais contidos, em que em alguns casos as poupanças anuais ascendem às dezenas de milhares de euros. 

E é este fenómeno que a região do Minho deveria aproveitar para obter dividendos para si. Com o advento das instituições de ensino superior no Minho, e com os baixos preços que se praticam em comparação a outras países da União Europeia, teríamos claramente espaço para atrair estudantes desses países para as nossas cidades. Não defendo, ao contrário de uma certa classe económica portuguesa, que o caminho Portugal passa quase em exclusivo pelo aproveitamento dos preços baixos,dos salários baixos e da mão-de-obra barata,  porque isso será um erro que provavelmente muitas gerações terão de pagar, mas antes aproveitar este momento, essa possibilidade, para darmos o “salto” qualitativo, para conseguirmos atrair atenções internacionais e com tudo o que os estudantes trazem.

Se quisermos perder algum tempo e analisar as listas de alunos de alguns institutos superiores e faculdades no Porto é fácil perceber que este fenómeno já existe, sendo o estudante brasileiro que vem tirar o seu curso a Portugal uma situação quase normal, mas penso que teríamos de pensar em algo mais, noutros mercados. 
E o que trariam esses estudantes?
Trariam euros, libras, coroas, dólares, cuanzas, reais para gastarem no nosso comércio, trariam rendas de casa adicionais, trariam publicidade gratuita acerca das cidades onde eles ficassem, trariam aumento de população fixa nas nossas cidades. As nossas universidades necessitam também de ter mais procura em termos de estudantes universitários, e não estou a falar daqueles que chegam via programa Erasmus, mas daqueles que vêm para ficar o curso completo, para poderem  ser cada vez mais reconhecidas em termos internacionais e deixarem o filão PALOP para contar com um apreciável número de alunos estrangeiros nas suas escolas.
E o que terá de ser feito?
Claro que atrair estes alunos é uma questão regional e nacional. É necessário estar nas feiras de educação, é necessário estar presente nos liceus e nas associações de estudantes para garantir que a mensagem é passada  ou que pura e simplesmente é conhecida  e que não se perde no meio de outras centenas de programas de intercâmbio académico. Seria necessário criar condições e facilidades de acessibilidade para estes alunos, para que no primeiro momento tivessem uma entrada mais normalizada na nossa sociedade e nos nossos hábitos. Seria também necessário que a Universidade disponibilizasse conteúdos em inglês e instituísse as aulas de português para alunos estrangeiros para assim ser necessário reduzir as aulas em inglês aos primeiros anos.
E Esposende sendo um concelho que vive rodeado de concelhos com instituições de ensino superior teria claramente algo a ganhar com este novo paradigma. Poderíamos dizer que este seria um bom pretexto para que Esposende tenha o afamado e prometido instituto superior no seu concelho e assim deixarmos de ser o buraco-negro nesse campo no Litoral Norte, já que Vila do Conde, Póvoa de Varzim, Barcelos e Viana do Castelo contam com instituições de ensino superior que com os apoios e as vontades políticas certas poderia contar com uma extensão de uma destas escolas superiores ao nosso concelho, essa promessa sempre adiada.
Claro que tudo o que escrevi acima perde quase toda a força se a proposta do nosso governo em colocar as propinas para alunos estrangeiros a 8000€ anuais for concretizada, mas mesmo assim é um caminho…

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