Com a emigração laboral certamente assistiremos ao fenómeno
da emigração académica, uma emigração que passa pelas pessoas emigrarem para
outros países em buscas das oportunidades de cursos superiores que em Portugal
não existem e pela busca de menores gastos para esses mesmos cursos.
Aceito que este tema deva ser tratado a um nível regional e até nacional, mas penso que no Minho poderíamos já ter algumas experiências neste campo para percebermos a aceitação e a dimensão do fenómeno.
Este fenómeno já ocorre com alguma frequência entre os
países da Europa Central que compartilham o alemão como língua oficial, em que
os estudantes da Áustria e Alemanha já promovem o intercâmbio, estando este fenómeno a alastrar-se a estudantes do Reino Unido, Irlanda, França e a algumas regiões de Itália que, com a
abertura da Roménia, Bulgária e Croácia, têm a oportunidade de obter os seus
cursos superiores com a mesma qualidade mas a preços muito mais contidos, em
que em alguns casos as poupanças anuais ascendem às dezenas de milhares de
euros.
E é este fenómeno que a região do Minho deveria aproveitar para obter dividendos para si. Com o advento das instituições de ensino superior no Minho, e com os baixos preços que se praticam em comparação a outras
países da União Europeia, teríamos claramente espaço para atrair estudantes desses
países para as nossas cidades. Não defendo, ao contrário de uma certa classe económica
portuguesa, que o caminho Portugal passa quase em exclusivo pelo aproveitamento
dos preços baixos,dos salários baixos e da mão-de-obra barata, porque isso será um
erro que provavelmente muitas gerações terão de pagar, mas antes aproveitar este momento, essa
possibilidade, para darmos o “salto” qualitativo, para conseguirmos atrair atenções internacionais e com tudo o que os estudantes trazem.
Se quisermos perder algum tempo e analisar as listas de alunos de alguns institutos superiores e faculdades no Porto é fácil perceber que este fenómeno já existe, sendo o estudante brasileiro que vem tirar o seu curso a Portugal uma situação quase normal, mas penso que teríamos de pensar em algo mais, noutros mercados.
E o que trariam esses estudantes?
Trariam euros, libras, coroas, dólares, cuanzas, reais para gastarem no nosso comércio,
trariam rendas de casa adicionais, trariam publicidade gratuita acerca das
cidades onde eles ficassem, trariam aumento de população fixa nas nossas
cidades. As nossas universidades necessitam também de ter mais procura em termos
de estudantes universitários, e não estou a falar daqueles que chegam via
programa Erasmus, mas daqueles que vêm para ficar o curso completo, para
poderem ser cada vez mais reconhecidas
em termos internacionais e deixarem o filão PALOP para contar com um apreciável
número de alunos estrangeiros nas suas escolas.
E o que terá de ser feito?
Claro que atrair estes alunos é uma questão regional e
nacional. É necessário estar nas feiras de educação, é necessário estar
presente nos liceus e nas associações de estudantes para garantir que a
mensagem é passada ou que pura e
simplesmente é conhecida e que não se
perde no meio de outras centenas de programas de intercâmbio académico. Seria necessário criar condições e facilidades de
acessibilidade para estes alunos, para que no primeiro momento tivessem uma
entrada mais normalizada na nossa sociedade e nos nossos hábitos. Seria também
necessário que a Universidade disponibilizasse conteúdos em inglês e
instituísse as aulas de português para alunos estrangeiros para assim ser
necessário reduzir as aulas em inglês aos primeiros anos.
E Esposende sendo um concelho que vive rodeado de concelhos com instituições de ensino superior teria
claramente algo a ganhar com este novo paradigma. Poderíamos dizer que este
seria um bom pretexto para que Esposende tenha o afamado e prometido instituto superior no
seu concelho e assim deixarmos de ser o buraco-negro nesse campo no Litoral
Norte, já que Vila do Conde, Póvoa de Varzim, Barcelos e Viana do Castelo
contam com instituições de ensino superior que com os apoios e as vontades
políticas certas poderia contar com uma extensão de uma destas escolas
superiores ao nosso concelho, essa promessa sempre adiada.
Claro que tudo o que escrevi acima perde quase toda a força se a proposta do nosso governo em colocar as propinas para alunos estrangeiros a 8000€ anuais for concretizada, mas mesmo assim é um caminho…
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